Dante Mendonça lança romance sobre a revolução urbana de Curitiba

Dante Mendonça lança romance sobre a revolução urbana de Curitiba

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A rua e a bruma. A régua e o compasso”, romance da revolução urbana de Curitiba será lançado no dia 22 de maio de 2022, por ocasião dos 50 anos de renascimento da Rua das Flores, a primeira via de pedestres do Brasil. E que marcou o início da grande revolução urbana comandada por Jaime Lerner, com repercussão mundial.

O livro do acadêmico Dante Mendonça é um romance de ficção histórica com 280 páginas. A fotografia de capa é de Maringas Maciel e o posfácio de Paulo Vitola, presidente da Academia Paranaense de Letras.

 

Um trecho do livro…

Opinião de Valor: Curitiba mulher

Ah, as mocinhas da cidade. “São bonitas e dançam bem”, cantava a dupla Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. E escrevem tão bem quanto a poeta Helena Kolody: “Quem é essa que me olha de tão longe, com olhos que foram meus?”.

Se existia alguma dúvida de que Curitiba é feminina, a bipolaridade de um outono como aquele que recebeu o cartunista francês – deixando para trás a leveza das saias e os decotes imaginativos, dando vez a um desfile casual de trajes invernais – nos convence da semelhança entre as cidades e as mulheres, tese defendida por Jaime Lerner e Luis Fernando Verissimo.

Talvez tenha sido um sopro edipiano que tenha inspirado Lerner e Verissimo, sendo os dois confessadamente apaixonados pelas cidades que lhes serviram de útero: Curitiba e Porto Alegre. Paixões que ambos repartem com Paris e Nova York, suas amantes de longa data.

Especialmente Jaime Lerner, quando estudando em Paris conheceu, ainda jovem, a fêmea com as curvas sensuais do Sena: “Paris é chique, uma mulher sempre vestida para um casamento. Nova York é uma mulher toda tatuada”.

Verissimo lembra que na Bíblia temos duas personagens marcadamente femininas: Babilônia, a grande prostituta, “vestida de linho fino, de púrpura, de escarlate e adornada com ouro e pedras preciosas e pérolas”, cujos pecados se acumularam até o céu e provocaram sua destruição, e Jerusalém, a “mulher do Cordeiro” que desce do céu, “como uma esposa ataviada para seu marido”, no advir dos novos tempos.

Um forasteiro diria que Curitiba, assim como uma mulher, tem seus altos e baixos. Para quem a estranha, é uma fêmea que sofre de transtorno bipolar em dobro, com um temperamento que oscila entre quatro estações num mesmo dia. Ela amanhece ensolarada sobrando euforia na paisagem. Por volta do meio-dia, nota-se que o céu escurece, sopra o vento sul e um velado mau humor toma conta das ruas. Em seguida, sol e chuva casamento de viúva. E toda aquela euforia do início da manhã escorre para o inferno das calçadas. O sol aqui e ali nos acena entre uma nuvem e outra, mas falta-lhe disposição para o chá das cinco. Com a luminosidade difusa, este inferno emocional só tende a piorar no início da noite, quando a bruma maliciosa convida ao leito.

Pecadora e virtuosa, Curitiba é a madame do Batel de cinta-liga, com sapatos sujos de lama da periferia. É uma bela balzaquiana com topete de colegial em busca da eterna fonte da juventude. Mulher de temperamento oscilante, criatura imprevisível. E só ela tem o poder de se transformar em um único dia. É a própria metamorfose ambulante: forte e feliz, é uma polaquinha pela manhã; frágil e dengosa, é uma nissei no meio do dia; nostálgica e carente, é a italianinha no meio da tarde; amada e assustadora ao anoitecer, é a loura fantasma a rondar a cidade; é a mãe zelosa que recomenda ao filho no seu primeiro dia de trabalho:

“Tenha modos e no caminho não fale com estranhos!” As mocinhas da cidade eram as alunas do “Colégio Caça Marido” que, nos dias de chuvarada, na volta pra casa faziam fila para pular as pocinhas d’água.

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