Como constatamos, a beleza das formas se espraia a partir de diferentes perspectivas, gerando expectativas que nos induzem a considerá-la ora harmônica, ora inspiradora, disforme ou inexpressiva, mas sempre sob a égide de um mesmo princípio, segundo o qual o Universo existe principalmente para mostrar a beleza em suas variadas manifestações. Há assim, em cada fenômeno, um enlevo místico que brota das potencialidades do Espírito, fonte de toda inspiração estética.

A beleza das formas está expressa nas diferentes espécies de arte nas quais nosso espírito se desenvolve culturalmente, tudo dependendo da inspiração privilegiada de artistas geniais, detentores que são de capacidades especiais no momento de expressar a criação. A arte evoca espiritualidade por ser, ao mesmo tempo, real e virtual, produto apenas da aptidão humana de apreendê-la. Dessa forma, podemos identificar os gênios diferenciados segundo as diversas maneiras de expressar a beleza, original em cada caso, nas formas de convivência, na erudição da música, no enlevo da dança, na criatividade da pintura, escultura, teatro, literatura, esporte, cinema, fotografia, quadrinhos, arte digital ou jogos multimídia.

Uma das mais originais propriedades de nosso espírito é a sua capacidade de captar a beleza das formas, como sínteses de intuição, encontradas não apenas em nossa subjetividade, mas presentes de forma ostensiva em todo o Universo. Dessa forma, podemos caracterizar o Espírito como possuidor de propriedades estéticas, ostensivamente presentes nos cristais, nas estruturas moleculares ou no mundo da cultura, nos indicando que seus propósitos são de harmonia e manifestação da beleza, cuja pedagogia deveria também educar nossos jovens.

Detentor do princípio da vida, o Espírito faz de tudo para revesti-la desse manto de beleza e ornamento, que deveria ser o sentido primário de nossas percepções, pois mesmo diante das mais estranhas aberrações, ainda é possível  sentir os efeitos estéticos de tudo que ocorre, mesmo diante das feiuras, das tragédias ou da morte. Ora, aqui, trata-se de um pendor espiritual que ultrapassa as contingências da matéria, alçando-as ao nível divino de uma beleza que nos arrebata, pela provocação de suas formas .

A origem dessas genialidades tem sido motivo de diferentes especialistas, desde aqueles que consideram sua gênese como natural e acessível a qualquer pessoa, até aqueles que defendem uma forma de encarnação; ou seria apenas a confluência de aptidões ou fatores físicos ou psíquicos coincidentes no seu desenvolvimento. De qualquer forma, sem uma disposição adequada do espírito de cada um, tais qualidades jamais poderiam ser desenvolvidas. Ora, isto concede às atividades do artista uma característica mais especial do que natural, um contexto de aptidões quase sobrenaturais, possuindo fontes só alcançáveis acima do normal.

LIMITES ÉTICOS DA ARTE – Mesmo reconhecendo a autonomia da arte em si mesma, ao considerarmos que os valores (verdade, beleza, justiça e o bem) são semelhantes em sua transcendentalidade, temos que levar em conta que a prática de qualquer arte deve possuir alguns limites, cuja liberdade excessiva comprometeria sua originalidade, devendo evitar a pornografia e o escândalo: igualmente, a disfunção das formas só será reconhecida se não afetar a harmonia do conjunto, como ocorre com PICASSO ou TARSILA DO AMARAL. Há, pois, que considerar a responsabilidade do artista, como defendeu JACQUES MARITAIN , em conferência pronunciada na Universidade de Princeton, EUA, em 1951.

  • Autor: Acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: Arquivo