Vivemos cercados por indicações do infinito, as experiências peculiares de tudo que ultrapassa seus limites, desde as intuições ilimitadas do espaço e do tempo, o suceder infinito dos números ou as paralelas que nunca se encontram, mas também as experimentamos em nossa subjetividade, quando sentimos o infinito do amor e da liberdade, a sensação da imortalidade da vida, a imaterialidade de nossa consciência ou a infinidade do Deus Criador.

Não obstante, que é mesmo isso que supera os limites estreitos de nossa realidade física? Os pensadores, há séculos, têm se dedicado a perscrutar a ocorrência peculiar disso que constitui uma experiência por não dizer extática em nossa subjetividade, um anseio pelo encontro de uma vivência além de nossa pobreza física, em contraste constante com a infinidade de nosso espírito?

O infinito, representado por um oito deitado, chamado lemniscata, indica o ciclo da vida, a respiração e o circular eterno da energia. No entanto, segundo Kant, a ideia do infinito nos é completamente a priori, por ser uma intuição criada apenas por nosso espírito, pois a Natureza desconhece inteiramente este fenômeno, nascido nos permeios da inteligência humana, toda vez que experimenta algo além de seus limites, um simbolismo virtual próprio de nossa espiritualidade.

Começando pelo mundo exterior, temos a constatação do infinitamente grande e do infinitamente pequeno; as medidas incomensuráveis do Universo; a variedade quântica da vida, que não tem limites em sua criatividade; na matemática, descobrimos a sucessão infinita dos números, a relação entre a diagonal com a circunferência do círculo, a série 3,1416… Zenão de Eléia, pensador grego, ficou famoso ao negar a existência do movimento, pela constatação da divisão infinita do espaço-tempo, como ocorre no exemplo da corrida entre Aquiles e a tartaruga, esta vencendo uma corrida entre ambos, por ter se deslocado primeiro.

Giordano Bruno, monge dominicano que viveu no século XVI, é considerado o mártir do infinito, por suas concepções consideradas muito avançadas para o seu tempo. Foi queimado vivo pela Inquisição. Para ele, Deus é infinito, constituindo a base de nossas dificuldades em concebê-lo. Em complemento, segundo Descartes, o infinito em nós é prova cabal de Sua Existência, uma presença evidente em nossa realidade objetiva e subjetiva. Teilhard de Chardin, paleontólogo jesuíta, teceu inovadoras impressões sobre o ilimitado do Universo.

Assim, o infinito em nós é algo a ser devidamente considerado, uma abertura divina em nossa consciência, que devemos aprender a cultivar. Ter o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora, eis como o poeta William Blake sentiu a presença do Infinito, que desponta em nossa vida como a prova mais evidente da mística da criação. Nas escolas, os estudos sobre o infinito haverão de ser bastante úteis na formação da mentalidade dos jovens, esclarecendo-os sobre a verdadeira natureza da realidade, virtual e mística em sua essência.

  • Autor: Acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: Arquivo
  • Imagem: Faizal Sugi por Pixabay