Holismo foi a simbólica criada por Arthur Koestler (1905/1983), pensador húngaro radicado na Inglaterra, obtida da palavra grega holos, que significa o todo, em combinação com o sufixo on (individual), que dá como resultado a palavra hólon, com o sentido de que, na Natureza, nada tem aspecto independente, mas que todo e partes se apresentam sempre em combinação de integração e individualidade, criando uma hierarquia de mútuas dependências (holarquia). Assim os átomos existem para formar substâncias; estas formam moléculas que criam órgãos que existem para formar organismos e estes existem para viver em relação, etc.

Dessa forma, as duas características básicas de qualquer processo holístico são a integração e a autoafirmação, no sentido de que nada existe isolado, mas sua tendência é de criação do novo pela participação e autonomia de evolução, afirmando-se como individualidade. Ora, se nada acontece isolado, é lógico que todo fim representa um novo começo, em condições transformadoras. Na continuidade, ressalta oportuna uma abordagem holística da vida, da consciência e do espírito e notar como eles se individualizam e se relacionam.

Portanto, importa indagarmos onde se situa a verdadeira origem da vida, que é um fenômeno que, mesmo podendo ser considerado intimamente relacionado ao quadro biológico da matéria, se apresenta dotado de características evolutivas que ultrapassam de muito suas condições apenas materiais. Ora, isso nos leva a ter de reconhecer que a vida, por suas características estranhas ao mundo natural, deve ter sua origem situada numa outra dimensão, tendo como único suporte possível uma transcendência colocada em nível superior, para que assim permaneçam justificadas suas características revolucionárias. Em acréscimo, temos de reconhecer que há uma diferença essencial apresentada através dos diversos momentos de evolução da vida, que mesmo estando in nuce desde o microcosmo, se diferencia profundamente em cada etapa de sua manifestação, desde os animais inferiores, até atingir a espécie humana.

Igualmente, a consciência não pode ser considerada apenas como um epifenômeno da vitalidade material, por sua natureza ímpar na construção de um mundo novo, abstrato e transcendente, ultrapassando suas bases cerebrais. Ora, isso ocorre porque a consciência ultrapassa a experiência de nossos sentidos, indo além das reações externas de nosso corpo. Ora, esse fato é suficiente para nos indicar que a consciência se situa num horizonte transcendente, estando apensa ao corpo de forma apenas não natural.

Por consequência, o ser humano dotado de vida e consciência acrescida de espiritualidade nos leva reconhecer que seu status biológico é bastante diferente da maioria dos outros animais, capacitando a espécie humana a desenvolver características bem acima daquelas de seus parentes inferiores, como criatividade poiética, racionalidade, sentimento e liberdade, coisas que estão bem além das condições biológicas, nos permitindo uma abertura para a ciência, a arte, a subjetividade e às intuições místicas.

No que tange ao Espírito, mesmo sendo virtual em todas suas manifestações, importa reconhecer que Ele constitui o hólon fundamental de toda a realidade, ao criar um Universo interdependente em todos seus aspectos contraditórios, sendo parte em todos eles, mas que se completam superando suas contingências. Dessa forma, Ele representa o coroamento da vida e da consciência, por alçar o ser humano a um nível de transcendência superior, no qual são encontradas as soluções definitivas para todos os paradoxos apresentados pela nossa condição de seres animais, sujeitos ao sofrimento e à morte. Imanente, faz nossa espiritualidade se situar no nível do concreto/abstrato, encontrando-se radicada na holística da existência integrada de nossa alma, que, mesmo diante da morte, induz sua transformação para um estágio de plenitude, felicidade e paz.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: lifestylehack por Pixabay