Todos nós, seres humanos, vivendo em sociedade, temos um nome próprio, que nos identifica e distingue dos nossos semelhantes. Ele representa uma espécie de passaporte que carregamos conosco como uma etiqueta pessoal, contendo nosso prenome e nosso sobrenome.

Em princípio, ele é imutável, indisponível e imprescritível, embora admita ser mudado, até livremente, se o fizer até completar o primeiro ano da sua maioridade civil, ou, ainda, mesmo depois disso, mas mediante razões fundadas, sem prejudicar, porém, o sobrenome de família.

Ele é assim um patrimônio pessoal, que não só distingue e individualiza você diante dos outros, como constitui também um legado familiar. E nesse sentido ele é protegido de todo dano moral e material que possa sofrer, tanto no âmbito do direito civil como no penal (arts, 1 a 19, do CC 185 do CP).

Para o cristão, por sua vez, o batismo é um ritual de purificação e acolhida na comunidade, simbolizado pelo nome que o batizando recebe em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19). O nome é então um patrimônio sagrado, não só religioso, mas completado por uma visão e um exercício cristão de vida. Daí a expressão do linguista paranaense, professor Mansur Guerios, de que o nome realmente tem alma.

Ora, temos por exemplo a demonstração do processo pedagógico da alfabetização, em que a criança ao aprender a escrever seu nome, não realiza apenas um desempenho ortográfico, no sentido linguístico e mesmo gráfico, mas vai ganhar com isso uma conquista mais importante que é a consciência de sua presença no mundo como ser social, um modelo estável, integrado e protegido da ambiguidade.

De acordo com Lucas (1.31), o nome de Jesus e seu reino eterno foi proclamado por um anjo a Maria, e a afeição e a reverencia à sua presença passou a ser tão frequente que, ainda nos primeiros tempos do cristianismo seu cristograma (um monograma feito das letras do nome), era visto frequentemente no cimo das portas das casas dos seus fiéis.

Assim, por conselho de Ricardo Rolle, do século XIV, se você lembrar e repetir o nome de Jesus, ele vai limpar seus pecados e acender seu coração, e esta devoção a seu nome era tanto que se conta que, no século XV o frade franciscano Bernardino de Siena sempre que encerrava os seus sermões, exibia aos fiéis o cristograma JHS gravado numa tábua, com letras douradas, hábito que levado ao conhecimento do papa Martinho V foi validado e encorajou-se que se adotassem também.

Tudo converge, assim, a favor da importância do nome, seu significado e seu papel profético no destino de nossa vida.

Assim se diz que é comum os pais ficarem angustiados à hora de escolher o nome dos filhos, porque não querem criar apenas um palavra de identidade pessoal para a transmissão de um simples legado familiar, se servem do registro para prestar uma homenagem de agradecimento ou de admiração a alguém, ou, mais ainda, para conferir ao registrando um dom profético ou uma promessa de vida, fundada no modelo um dos seus heróis ou personagens de sucesso social e material.

E, nesse sentido, é comum as pessoas mais simples se deixarem levar pelo modismo ou a popularidade de adotar o nome de personagens do cinema, do teatro ou da televisão, e mesmo de craques do futebol.

Tem também ainda o lado criativo dos exuberantes que se comprazem em criar extravagâncias nominais, como o daquele composto vago de um nome de 29 letras avulsas, ou a mulher referida como Haartlepool, da Inglaterra, que adotou como seu nome um composto vacante de cerca de 161 letras.

Além disso, também, quanto à escolha de nome, guarde-se ainda o criador de que eles têm vida, igual a nós ou até menos que nós. Cícero, por exemplo foi famoso orador e filósofo da República Romana, nome que os oradores de todo tempo passaram a usar e honrar com toda reverência e orgulho. Ora, na origem, a palavra Cícero não fazia parte do seu nome, que era Marco Túlio, somente. Mas ele tinha um grão-de-bico ou verruga na ponta do nariz. E o tal grão-de-bico passou a servir para seu apelido ou sua fama de orador, que os amigos até aconselharam de excluir. Cícero não quis, porém, e o conservou para que mais tarde seu nome passasse a representá-lo em definitivo, como seu próprio nome, sua identidade e grandeza. Afinal, tudo isso não impediu, porém, que hoje em dia seu nome passasse a identificar um simples guia de museu: um cicerone. Essa, enfim, é a lei da vida.

Mas, insistindo ainda na importância da escolha do nome, vale repetir que ele não representa somente uma identidade pessoal, pois carrega consigo também um papel iterativo de agente social, que passa pelo confronto natural da convivência humana e à frente dos preconceitos da vida e da sociedade humana. Assim, o que acentuam as regras mais simples da antropometria é que o seu nome seja a sua primeira apresentação e ofereça desde logo uma indicação favorável e confiável a seu respeito. Isso favorece sua recepção e seu acolhimento, no mundo atual marcado pela insegurança, a disputa e a carga de tantos preconceitos.

Então, imaginem que espécie de recepção e acolhimento podem contar os que carregam os nomes que selecionamos aqui, extraídos do próprio registro público nacional. Escolhemos poucos, pois o que mais importa não é o número deles, mas o impacto que produzem nos outros e sobretudo no destino dos que esperam da vida os que os portam. São eles: Arenata Barata, Agrícola Beterraba Areia, Alice Barbuda, Armando Amoroso, Amável Pinto, Bispo de Paris, Bizarro Assado, Ava Gina, Otávio Bundasseca, Um Dois de Oliveira Quatro, Inocêncio Coitadinho, América do Brasil dos Santos, Mijardina Pinto, Maria Você me Mata e assim segue, com muitos outros ainda, que certamente não favorecem invocá-los, sob risco de perderem o pouco que já se têm.

Assim, ao que se vê, a escolha do próprio nome é às vezes a escolha de um destino…

  • Autor: acadêmico Rui Cavallin Pinto
  • Foto do autor: arquivo APL
  • Imagem: cedida pelo autor