A música é fundamental para o funcionamento de uma sociedade. Desde os tempos antigos que, sempre que uma nova sociedade nasce, com ela aparece um novo estilo de música.

É do conhecimento geral que a música tem um grande poder sobre as emoções e a psique humana. Dessa maneira, ela pode ser utilizada para manipular as pessoas, seja essa manipulação bondosa ou maldosa.

As práticas musicais não podem ser dissociadas do contexto cultural. Cada cultura possui seus próprios tipos de música totalmente diferentes em seus estilos, abordagens e concepções do que é a música e do papel que ela deve exercer na sociedade. Entre as diferenças estão: a maior propensão ao humano ou ao sagrado; a música funcional em oposição à música como arte; a concepção teatral do concerto contra a participação festiva da música folclórica e muitas outras.

Falar da música de um ou outro grupo social, de uma região do globo ou de uma época, faz referência a um tipo específico de música que pode agrupar elementos totalmente diferentes (música tradicional, erudita, música popular ou experimental). Essa diversidade estabelece um compromisso entre o músico (compositor ou intérprete) e o público que deve adaptar sua escuta a uma cultura que ele descobre ao mesmo tempo em que percebe a obra musical.

Desde o início do século XX, alguns musicólogos estabeleceram uma “antropologia musical”, que tende a provar que, mesmo se alguém tem certo prazer ao ouvir uma determinada obra, não pode vivê-la da mesma forma que os membros das etnias aos quais elas se destinam. Nos círculos acadêmicos, o termo original para estudos da música genérica foi “musicologia comparativa”, que foi renomeada em meados do século XX para “etnomusicologia”, que se apresentou, ainda assim, como uma definição insatisfatória.

Efeitos biológicos e emocionais da música

Olhemos a obra “Musicofilia” de Oliver Sachs. Esse psicólogo conceituado sempre tomou a música como uma grande “arma” psicológica, capaz de curar/maltratar pessoas. Nesse livro, são dados grandes exemplos, devidamente justificados, do poder da música, entre eles:

· Doentes com amnésia crônica conseguiam lembrar memórias que estavam relacionadas com músicas que tinham ouvido.

· Vários estudos mostram que em fábricas os operários trabalham mais depressa e melhor quando estão a ouvir uma música que acompanhe o seu ritmo de trabalho.

De fato, a música é muito poderosa, mas de onde será que vem esse poder? Muito de esse poder vem das frequências de certos sons encontrados nas músicas, que como têm um valor de hertz parecido ao encontrado em alguns constituintes do nosso corpo, nos tornam num diapasão natural, fazendo-nos ressoar.

Essa sensação é quase imperceptível, mas faz-nos reagir inconscientemente de uma maneira muito emocional.

Neste ponto também se pode indagar acerca do fato de a música erudita ser tão pouco apreciada pelas massas, pois o fato de esta ter um efeito emocional/biológico tão “pesado” pode levar ao “medo” e desconforto por parte dos ouvintes.

Há uma relação cíclica entre o estado de espírito e a música que o sujeito está a ouvir no momento.

Assim, podemos divagar sobre aplicações da música em sítios públicos, como maneira de controle comportamental. Por exemplo, a música nos supermercados. A música dos supermercados serve geralmente propósitos manipulativos.

Se for verdade que os consumidores não gostam de multidão, também não gostam da ressonância das vozes num hipermercado vazio. Essa sensação fará com que abandonem o local mais depressa. A música de ambiente, sem palavras cantadas, resolve este problema. As músicas não devem ter cantores porque as letras iriam atrair a atenção dos clientes. Elas são usadas para que o consumidor se sinta bem, perca a noção do tempo e permaneça mais tempo no supermercado. Por outro lado, quando os supermercados usam música mais alta na hora de fecho, provocam um sentimento de desconforto nas pessoas e apressam-nas a sair.

Outro exemplo é o uso de certas frequências nas emissões televisivas. Foi descoberto que as palavras de alguns locutores da televisão se aproximam a uma frequência de 7 Hz. A frequência da ressonância parece ter um efeito sugestivo e alterante do nível de consciência e da capacidade crítica. Outra frequência crítica está perto dos 3,5 Hz, isto é, a frequência de ressonância do crânio humano.

Vantagens da música na sociedade

· A música é uma “arma” política e cultural, podendo ser usada como um exemplo do avanço cultural e político de certa sociedade. Um exemplo desse fato pode ser constatado na revolução de 25 de abril em Portugal. A música é uma arma poderosíssima, que pode ser usada não só para entretenimento, mas também a nível político e cultural, podendo ajudar a ultrapassar problemas e dificuldades, despertando o poder crítico dos ouvintes.

· Pode ser usada como uma “ponte” entre diversas culturas: Cada cultura tem um estilo de música característico, o que enriquece a própria sociedade em que está inserida.

· Pode ser usada como linguagem universal: a música é de fato uma linguagem comum a todas as pessoas, podendo facilmente transmitir emoções ou sentimentos a nível universal.

· Na sua vertente de musicoterapia, pode ser usada para tratar diversos problemas mentais: vários distúrbios, tal como o autismo ou paralisias cerebrais, podem ser curados através da musicoterapia, com o recurso a várias técnicas próprias para o efeito.

· A música faz circular a economia, com concertos ou CDs, entre outros: muitas empresas vivem à custa da música e consegue através dela gerar muito dinheiro, lançando novos músicos, artistas, estilos, CDs, concertos, entre muitos outros.

Desejo encerrar citando as palavras do então vice-reitor da PUCPR Paulo Augusto Mussi em seu discurso na abertura do evento Ciência e Fé realizado na PUCPR em 2013 com a presença de Milton Nascimento:

“O artista é essa pessoa que ao longo de sua vida aprofunda sua espiritualidade. E sua relação com o transcendente se manifesta na sua obra. A arte, por prestar-se à admiração, nos sensibiliza mais em perceber o que dela flui, o que dela se manifesta.

Vivemos em um mundo que precisa desesperadamente do transcendente. Particularmente neste ambiente universitário e marcado por uma identidade cristã, se acentua o desafio desta integração entre fé e a vida. Segundo Stefano Zamagni ‘a identidade de uma universidade católica se compõe de três elementos básicos, geratividade, reciprocidade e dom como gratuidade.’

Mas como somos uma instituição de ciência, com predomínio da racionalidade, esta nos leva por caminhos de dúvidas e questionamentos, assim como a fé, no entanto ambas são meios para encontrar respostas ou até novas perguntas. Isso é um fato que marca nossa humanidade, principalmente porque tratamos de métodos e teorias durante a maior parte do nosso tempo. Daí a importância da arte, porque normalmente ela nos remete à contemplação mais intuitiva e menos racional. Ela exercita a nossa sensibilidade, aguça outros sentidos. A expressão espiritual refletida na arte nos envolve nessa nossa dimensão mais transcendente, que vai além do exercício teórico. E é só nesse âmbito que nos deparamos com a verdade, com a verdade que dá sentido a nossa vida.

Os artistas que expressam na sua arte a espiritualidade nos proporcionam voltar ao nosso próprio interior e nos encontrarmos conosco e com Deus. Quem de nós nunca teve a experiência de sentir-se envolvido com o transcendente, ao ouvir ou contemplar uma obra de arte?

Um convite lhes faço agora: unir ciência e fé, refletir e contemplar as músicas, as poesias, (as pinturas, o teatro e a dança) oferecidos e apreciados por esta universidade e a partir delas, fazer as perguntas que nos aproximam da verdade.”

  • Autor: Acadêmico Paulo Torres
  • Foto: Arquivo pessoal
  • Imagem: Gerd Altmann por Pixabay