Como no mundo das micropartículas, o macrocosmo também trabalha em saltos quânticos, sem os quais ele não teria sido capaz de acolher o surpreendente e a variedade da vida. Igualmente, constatamos que o ser humano é dotado de uma consciência quântica que, por ser virtual, oscila entre colapsos repentinos, produzindo o milagre de suas manifestações abruptas, tornando-nos seres humanos ricos na percepção do imaginário. Tais processos virtuais provenientes de nossa espiritualidade não estão no âmbito da sensibilidade física, mas estão imersos no mundo semiótico dos vários significados que a realidade nos oferece, colocando, a cada momento, a sua variedade. Ora, isso explica a riqueza de suas possibilidades, que brotam espontaneamente em nossa mente, enriquecendo sobremaneira os significados das coisas.

Igualmente, como se verifica para nós, vive o Universo oscilando entre o real como determinado e o virtual como possível. Porém, como tudo no Universo depende de nosso conhecimento, que constata apenas coisas repentinas e passageiras, a conclusão é a de que o Universo, para nós, está suspenso entre o real e o virtual, oscilando entre a necessidade e o acaso, restando frágil em seu permanente não ser, o que implica a existência prévia de um “atrator” que efetive o click (software) permanente que assim possa concretizar o milagre de sua ocorrência.

Dessa forma, presenciamos uma variedade de ocorrências virtuais, presentes  momentaneamente, como resultados de nossa consciência quântica. Em primeiro lugar, as virtualidades relacionadas ao tempo e ao espaço, à percepção de nosso próprio eu; depois, as virtualidades do microcosmo, que como verdadeiros milagres, alteram-se continuamente, sem perder a sua consistência; mas há também virtualidades semânticas, como aquelas parábolas que carregam em si outro sentido. Cristo foi um mestre nas virtualidades semânticas, procurando facilitar o entendimento de suas mensagens salvíficas. Há também outras virtualidades, como aquelas referentes ao colorido das flores, as intuições de nossa inteligência, nossa sensibilidade aos valores etc.

Nascer e morrer são processos complementares e também virtuais, por serem ocasionais, mas transformadores, com a finalidade de manter o fluxo criativo, e por isso não menos importantes em seu acontecer, como fases de um rosário em revelação. Ora, as vidas humanas são como fogos de artifício, em constante aparição e desaparecimento, similar aos fenômenos pirotécnicos. Como colapsos provisórios de consciência quântica, as vidas se expressam na variedade das luminosidades concedidas e em variadas formas que assume, em brilho e duração, de acordo com a situação que cada um desempenha, em função de suas condições existenciais.

Sem dúvida, a homologia é muito apropriada, refletindo uma particularidade de todo o Universo, que traz em si, primitivamente e de forma renovada, a ocorrência de luz e energia, que mesmo parecendo caóticas, conseguem se organizar em cosmos, pela ação de uma Consciência Quântica que os aciona e dirija, constituindo um arcabouço de sustentação de todo o Universo criado, em sua longa evolução. Finalmente, importa ressaltar que a consciência quântica está inserida na realidade essencial da Natureza, devendo ser considerada como a manifestação mais concreta do que a constitui, pois é fruto de um Espírito que, como fogo, é o elemento alquímico básico de tudo o que existe. Por isso, tal Universo se nos apresenta dotado de evolução e sentido, recorrentemente presentes na transformação biológica, histórica e cultural de todas as coisas. Sem essa virtualidade transcendente, nada tem significação, e nossa vida só passa a ter sentido quando revestida dessa consciência quântica que se concretiza.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
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