Dom Albano Cavallin, Arcebispo Emérito de Londrina, nasceu na Lapa, filho de Pedro Cavallin e Celestina Bortoletto Cavallin. Era neto de Giovanni Cavallin, irmão do meu avô Antônio Cavallin. Assim, Dom Albano era, por via colateral, meu parente de 4.º grau e com ele cheguei a conviver em dias da minha infância na casa dos nossos avós, em curtos períodos de férias escolares.

Tanto Giovanni como Antônio eram crianças (13 e 10 anos), quando vieram da Itália, em 1889, trazidos pelos pais, num grupo de 71 imigrantes que partiu da província de Treviso, no Vêneto, no nordeste da Itália, e foram instalados na colônia San Carlo de Borromeo, nas imediações da cidade da Lapa. Eram em geral trabalhadores do campo, mas logo diversificaram suas atividades para o comércio ou ocupações gerais. À medida que se multiplicavam, muitos deles prosperaram e ganharam destaque na vida social, e até assumindo o destino da comunidade. Entre eles, Giovanni se uniu ao irmão Antônio e instalaram a maior casa de comércio da cidade, enquanto se dedicavam também à construção civil, participando de obras públicas da maior importância, como o Sanatório da Lapa, hoje hospital São Sebastião, para tratamento da tuberculose, inaugurado em 1927; a construção do quartel de artilharia do exército e o Santuário de São Benedito, este resultado da promessa de pagar uma graça divina recebida.

A Lapa era então uma cidade muito religiosa, onde o pároco era mais influente que o prefeito. Os pais de Albano formavam um lar fundamentalmente cristão, onde a liturgia católica é que regulava a vida familiar. Não havia domingo sem Eucaristia.  Moravam vizinhos da Matriz e o pároco frequentava a casa da família, de que tinha até a chave.

O menino Albano, por sua vez, foi coroinha desde os 7 anos, participando da missa diária, quando, em 1940, entrou para o Seminário Menor em Curitiba, no antigo Palácio Episcopal, onde cumpriu 6 anos de estudo e disciplina moral e religiosa. Completada a formatura, agora com 16 anos, foi enviado para o Seminário Maior da Imaculada Conceição, da Arquidiocese da São Paulo, recebendo a batina e seguindo mais três anos de estudos de filosofia e ainda quatro de teologia.

Foi assim, portanto, que cultivou os valores cristãos que iriam nortear sua vida e fortalecer sua devoção eucarística, para que, em seis de dezembro de 1953, com 23 anos e na companhia de outros diáconos, recebesse, diante dos pais, familiares e fiéis, o Sacramento da Ordem, em solenidade presidida por Dom Manuel da Silveira D’Elboux, Arcebispo de Curitiba.

Sua primeira missa, ele a rezou no dia seguinte, num convento de Curitiba que servia de residência do padre Bernardo Peirick, antigo pároco da Lapa e seu padrinho, a quem quis homenagear.

Então, como vigário e auxiliar da Catedral, passou a se entregar com especial dedicação aos misteres religiosos da paróquia, como se pôs, também, a cumprir sua designação para a paróquia de Santa Terezinha, no Batel, uma das de maior frequência da sociedade curitibana, onde havia sábados em que eram celebrados até nove casamentos. Sua presença conquistou, porém, a confiança e a amizade do povo da Diocese favorecendo a formação de uma verdadeira comunidade pastoral.

Em 1960, realizou-se também em Curitiba o 7.º Congresso Eucarístico Nacional “Eucaristia Luz e Vida do Mundo”, promovido  pela Arquidiocese, do qual  o vigário Albano participou e resultou a oportunidade de viajar para a Itália,  para participar de um curso de especialização, além da oportunidade de desfrutar do convívio com a tradição cultural e religiosa italiana, e mais, da oportunidade de conhecer os preparativos do Concílio  Vaticano II, de cuja convocação vai participar na sua volta ao Paraná.

Porém, no seu retorno ao Brasil, foi colhido pela súbita morte do seu pai Pedro Cavallin, seguida da notícia da sua nomeação para Bispo Auxiliar de Curitiba, prêmio alcançado aos 27 anos por força de sua fé e fidelidade religiosa, passando a servir Dom Pedro Fedalto, seu antigo colega e amigo do Seminário.

Sua sagração episcopal ocorreu em agosto de 1973, em cerimônia que contou com a representação de toda Curitiba, lotando as dependências da Basílica Menor da Catedral.

Devotado às suas atividades, o neo Bispo passou à divulgação dos documentos do Vaticano II e a ministrar cursos para sacerdotes, pela Regional Sul, II, da CNBB, dedicando seu maior tempo, porém, ao Seminário Maior “Rainha dos Apóstolos”.

Em 1986 recebeu a missão de João Paulo II, de assumir a diocese de Guarapuava, onde permaneceu quase 6 anos, até sua nomeação para Londrina. A Diocese vivia então uma quadra social difícil, pois ao redor de 70 fazendas de gado da região, acamparam 67 grupos bem organizados do Movimento Sem Terra, reclamando sua distribuição e a intercessão da igreja, em cujo conflito Dom Albano interveio, mesmo a custo de muita incompreensão, para sustentar a justiça da reforma agrária, mas sem tirar o respeito à consciência do direito de quem a possui por justo título.

Em sua carta de despedida Dom Albano se declarou recompensado por deixar quatro mil catequistas e um número igual de círculos bíblicos.

Quando Dom Albano ainda era Bispo Auxiliar de Curitiba, Dom Geraldo Fernandes, o primeiro Arcebispo de Londrina, o convidara para vir servir em Londrina, o que só não aconteceu porque Dom Albano se confessou muito doente e perguntou ao Arcebispo se aceitava correr o risco de contar com os serviços de um defunto. Ocorre, porém, que, em 1992, Dom Albano se viu nomeado Arcebispo de Londrina, cuja posse ocorreu ainda em maio daquele ano, para um longo arcebispado de 15 anos, que só se encerrou com seu pedido de renúncia à Cúria Romana, em 2005, ao completar 75 anos de idade e se converteu então em Bispo Emérito da CNBB.

Foram 60 anos de sacerdócio e 40 de episcopado.

É difícil a um leigo avaliar todo o sentido e o alcance espiritual de uma devoção religiosa na extensão e dedicação que assumiram. Não só para o devoto, como para os que foram contemplados com elas. Certamente, será Igual a distribuir as chaves do céu, como na historinha que Dom Albano gostava de contar e sempre fez como evangelizador e confessor de fé.

Foi ele, por certo, um homem de Deus, incansável pastoralista que percorreu o Paraná inteiro propagando e divulgando o Concílio Ecumênico Vaticano II e foi o criador da Regional Sul II, da CNBB.

Na renúncia e prestação material de contas do seu mandato fez incluir a construção do Centro de Pastoral, a fundação da Pontifícia Universidade Católica, campus em Londrina (PUC) e as Missões Populares, com 14 mil missionários leigos junto às famílias.

É o quanto se pode dizer de menos, da lembrança da grandeza da fé cristã deixada por um homem santo e humilde semeador da palavra de Deus.

  • Autor: acadêmico Rui Cavallin Pinto
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: cedida pelo autor