A ética, reflexão mental a respeito da moralidade de nossos comportamentos, envolve muitos aspectos complexos, tendo em vista seus condicionantes culturais, filosóficos ou religiosos. Por isso, no correr da história, têm sido bastante diversas as formas pelas quais ela se conceitua, revelando seus aspectos virtuais e contraditórios. Selecionamos três paradigmas para melhor conceituá-la, não deixando de reconhecer que eles constituem um tecido de mútua implicação.

Primeiro paradigma: em perspectiva humana, como nos relata Kant, tudo tem seu preço, mas só o ser humano tem a sua dignidade”, que, através de uma intuição natural, devemos reconhecer como inerente a todo ser humano, preservando as suas prerrogativas de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, pressupostos fundamentais de sua espiritualidade. Nenhum exagero deverá alterar o condicionamento natural do exercício das virtudes decorrentes, impondo-lhes qualquer tipo de servidão. Em complemento, sob a perspectiva dos direitos humanos, tudo deve ser feito no sentido de garantir a vida, liberdade e procura da felicidade para todas as pessoas, individual ou coletivamente.

Segundo paradigma: de perspectiva racional, no qual os pensadores têm variado as formas pelas quais a ética se estrutura, tendo em Platão a conquista do bem como o fundamento de todas nossas ações. Assim, procurando em cada situação o bem maior a ser atingido, teremos realizado o objetivo principal de nossa vida. Não obstante, para Aristóteles, esse bem maior consiste num meio termo de equilíbrio entre os excessos, evitando os exageros. Também para Kant, o gigante da ética racional, a ética consiste em obedecer a um imperativo categórico de nossa razão, que nos obriga a fazer tudo o que o bom senso coletivo reconheça como adequado. Esse seria o fundamento maior de nossas ações, com grandes vantagens na vida social.

Terceiro paradigma: São Paulo, na Carta aos Filipenses (4:4-7) nos recomenda: “Meus irmãos, estejais sempre alegres em vossas vidas no Senhor. Repito, alegrai-vos. Sejais bondosos para com todos e não tenhais receio de coisa alguma, pois o Senhor está contigo. Pedi ao Senhor tudo o que necessitardes, sempre em espírito de agradecimento. E a paz de Deus, que está acima de toda compreensão humana, guardará vosso coração e vossa mente em união com Jesus Cristo. Fazei tudo o que é bom e digno de elogio: o bom, o justo, o verdadeiro e o amável, amém”.

Em complemento, uma ética espiritual universalizará a ética religiosa, nos recomendando os seguintes preceitos:

1.     Reconhecerei a natureza espiritual de meu ser.

2.     Incentivarei a criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade de todas as pessoas.

3.     Usarei minha criatividade sempre em vista de atingir um bem maior para nós e para todos.

4.     Utilizarei minha razão sempre tendo em vista seus limites, em respeito aos argumentos daqueles que me contrariem.

5.     Serei sempre humilde e amoroso, acolhendo as fraquezas daqueles que me são próximos ou distantes.

6.     Usarei minha liberdade sempre no sentido de contribuir na libertação de todos os que sofrem alguma forma de escravidão.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto do autor: arquivo APL
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