Podemos nos referir ao surgimento da vida ao que o Gênesis nos expõe no Antigo Testamento: ‘nas trevas do abismo, o Espírito de Deus pairava sobre as águas’, pois Ruah é o espírito feminino a gerar o parto do Universo. De fato, como uma gigantesca explosão, o cosmos surge das entranhas do vácuo, em forma primitiva de luz e energia, sendo posteriormente povoado por centenas de coisas animadas e vivas. Dessa forma, pela herança bíblica, podemos nos certificar que a vida está in nuce em todo o Universo, como um possível que por sua existência, implica eo ipso um ser necessário, como diria Leibniz..

O milagre da vida é a transformação de substâncias químicas, orgânicas ou não, em reações comportamentais, trocando informações dentro de uma célula e produzindo energia e reprodução. Inexplicáveis por via apenas natural, nos deixa o sinal de ser um fenômeno além de normal, o que se comprova de forma imediata, pelo fracasso dos cientistas, que até agora não conseguiram criar vida em laboratório.

A vida se expressa no Universo de uma forma constante, desde a incipiência das manifestações energéticas de luz e força, que evoluem posteriormente até atingir uma autonomia de reações agindo em contraposição às leis da desagregação entrópica, marchando, portanto, no sentido inverso à tendência natural. Esse é, então, o milagre de sua ocorrência, que evolui em sete etapas diferenciadas, conforme podemos verificar:

Vida quântica, constatada hoje pelos cientistas a partir das reações que envolvem os átomos, que em sua dinâmica, reagem reciprocamente a distância, presumindo serem possuidores de uma forma interativa de comunicação (sic!), o que têm alterado profundamente as formas de entender a matéria e suas transformações de caos em cosmos, um telefinalismo organizacional, sem o qual não estaríamos aqui como seres vivos.

Vida microcelular, constituindo um universo de pequenos organismos, invisíveis aos nossos olhos, envolvendo vírus, fungos, bactérias e bacilos, essenciais na sustentação dos demais seres vivos, podendo também destrui-los, como ocorre individual ou coletivamente. São apenas aglomerados químicos que podem nos salvar ou destruir.

Vida vegetal, constituindo os musgos, as árvores e as florestas, seres vivos que transformam a luz solar em fotossíntese, dando assim condições para o surgimento da vida animal. Dotados de consciência instintiva, sabem como aproveitar melhor as oportunidades de reprodução e desenvolvimento, produzindo nutrientes e frutos, além de se transformar em belas flores, encantando a Natureza com seu colorido, sua simetria e perfumes.

Vida animal, dotada de autonomia plena de movimentos, apresenta o início do psiquismo, que de forma instintiva, manifesta desejos e sentimentos, tornando-os ávidos por sua sobrevivência. Dotados de intensa vida sexual, possuem mecanismos hormonais que garantem a continuidade de suas espécies, uma inteligência natural que supera a contingência física de sua destruição. Um processo fratricida de ataque e defesa entre todas as espécies, afeta, no entanto, a manutenção de suas vidas.

Vida humana, possuidora de capacidade cerebral, surge apta a produzir pensamentos abstratos e autonomia de decisões, permitindo-lhe alçar voos no mundo da criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, o que lhe dá o domínio na compreensão de sua realidade e questionar sobre tudo que a afeta. Tendo origem pela constatação, em nós, da presença de um Sopro Divino que a mantém, é a garantia de nossa imortalidade.

Vida psíquica, enriquecida pela descoberta da consciência e do subconsciente, por Freud, Jung e a escola da psicanálise, é diferente no homem e na mulher, o que demanda compreensão e muita tolerância. Com base em nossa consciência, estrutura-se através de suas oscilações, tornando-se frágil em suas reações.

Vida espiritual, tendo por base o Espírito que a cria, o ser humano tem nela a marca de sua transcendência, como a melhor forma que possui de superar as limitações naturais da condição animal. Refletida em meditação e prece, a vida espiritual é convivência permanente com o sagrado, em vivência de fé.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: Garik Barseghyan por Pixabay