Sempre vi em Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá uma figura realmente singular. Um homem diferente do comum, ou pelo menos, diferente dos da sua grei. Consta da história deste país, que o domínio político de quase todos os primeiros tempos de nossa história foi exercido pelos grandes senhores agrários; a tradicional oligarquia rural. Ora, Jesuíno era filho de  Marcondes e sua mulher Cherubina Rosa Marcondes de Sá, Barão e Baronesa do Tibagy, proprietários de terra de campos e capoeiras em Palmeira e remotos campos de Palmas, onde se cultivavam lavouras e onde se engordavam as tropas de muares trazidos do Sul, para revenda nas feiras de Sorocaba e para abastecer os mercados de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Eram os negócios mais lucrativos da época. A sede era em Palmeira, no hoje solar Jesuíno Marcondes, obra do século XIX, tombada pela municipalidade local e convertida em Museu Histórico de Palmeira.

Jesuíno recebeu educação precoce, levado aos 7 anos, com seu irmão, para estudar em Curitiba, então a cem milhas de sua cidade. Completada a educação elementar, seguiu para São Paulo, para frequentar o Curso de Direito, mas foi aí que começaram as divergências consigo mesmo e com as inclinações do seu temperamento. Primeiro, porque, se desaveio com o professor durante a realização de um dos exames do curso, o que deu espaço para que deixasse a academia e se transferisse para a Olinda, onde, afinal, concluiu com distinção sua formatura em outubro de 1849. Esses bons resultados, porém, não bastaram para deixar o jovem advogado de acalentar o propósito de seguir a carreira diplomática, com que trocou recomendações e conselhos com o velho pai, antes de ser demovido da ideia Igual de seguir ao magistério, para cuja missão, entretanto, admitia não possuir qualquer vocação. De volta à família, além desfrutar do convívio dos parentes, fez com o pai um longo passeio pelas propriedades da família.

Em dezembro de 1850 partiu para a Europa, direto ao Havre. Voltaria só no final de 1852, depois de um longo percurso por toda a Europa ocidental, visitando os mais distantes países, com centro em Paris e na fontes termais de Vichy, para tratamento de distúrbios gastrointestinais. Terminava, assim, ao gosto nativo, o curso de pós-graduação de todo bom filho brasileiro. Voltava às vésperas da Lei n.º 704, de 29 de agosto de 1853, que criava a Província do Paraná, e fazia de Curitiba sua capital, salvo se a Assembleia provesse ao contrário. Prevaleceu Curitiba. Em outubro seguinte lançou sua candidatura a deputado geral, acompanhada de longa exposição sobre suas ideias e seu programa de trabalho em prol da permanência e prosperidade da nova província. Começou aí sua carreira política que iria se alongar por anos contínuos e passar, no início, pela sua nomeação pelo presidente Zacharias de Góes e Vasconcelos para a Inspetoria da Instrução Pública, prosseguindo depois como procurador fiscal do Tesouro, deputado provincial nos biênios 54-55; 56-57; 60-61, diretor presidente de Municipalidade de Curitiba, 1.º suplente de deputado-geral, em 1854; deputado-geral na 10.ª, 12.ª e 18.ª legislaturas; 2.º vice-presidente da Câmara dos Deputados, ministro e secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, vice-presidente do Paraná, com exercício interino do governo em 1878, 1879 e 1882, além de chefe supremo do Partido Liberal por longos anos.

Mas, de tudo o que mais surpreende é que, durante toda sua vida pública ou mesmo depois dela, Jesuíno sempre abjurou da política. Não deixou apenas a impressão de seu desagrado. Era como se sentisse condenado a cumprir um dever meramente cívico. Nunca perdeu de vista a vida diplomática, nem o encanto de ser senhor de terras nos Campos Gerais, ao lado do pai, curtindo o céu manso e o cenário verdejante do Paraná. Foi chefe supremo do partido liberal por muitos anos e exerceu o poder político com todas as homenagens e valimentos da vida política, num tempo de profundas mudanças sociais e políticas, como ocorreu com a segunda parcela do século XIX. A transição política do novo regime nem sempre foi isenta de resistência política, como ocorreu com a guarda negra da Bahia. Ao receber o telegrama de Deodoro, Jesuíno simplesmente entregou o governo ao coronel Cardoso Junior, como quem se liberta de um pesado encargo. E então se autoexilou em Genebra, na Suíça onde morreu 12 anos depois, sem nunca voltar ao Brasil.

A obra é do falecido filho médico e poeta Moysés Marcondes, escrita 25 anos depois do falecimento do pai. É livro encomiástico de saudade e de amor e admiração filial, mas, além de tudo, merece ser saudado e comemorado pela sua recuperação e edição pelo Dr. Luiz Alberto Fernandes Soares, presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores. Uma obra indispensável à estante histórica do nosso Estado.

  • Autor: acadêmico Rui Cavallin Pinto
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: cedida pelo autor