O envenenamento por mercúrio – ingerido pelas populações das áreas poluídas ao consumirem peixe, seu único sustento, causa várias deformidades e, em muitos casos, a morte. Uma das fotos emblemáticas do século 20 – uma mãe japonesa dando banho em sua filha lesada, numa composição que lembra as Pietàs do Renascimento – deu muitos prêmios ao fotógrafo W. Eugene Smith, mas lhe custou um olho, ao ser brutalmente espancado por seguranças da indústria química transgressora na pequena cidade pesqueira japonesa de Minamata. A agressão tóxica foi tão grave que, já em 1954, gerou a denominação do mal: a Doença de Minamata, uma síndrome neurológica causada por severos sintomas de envenenamento por mercúrio. Os sintomas incluem distúrbios sensoriais nas mãos e nos pés, danos à visão e audição, fraqueza e, em casos extremos, paralisia e morte.

W. Eugene Smith (1918-78), um dos maiores foto-ensaístas dos anos dourados do jornalismo ilustrado, passou três anos em Minamata (1971-73) com sua mulher, a nipo-americana Aileen Mioko Smith, documentando a doença. Seu registro Tomoko Uemura tomando banho é considerado uma das obras-primas da arte fotográfica. Antes não o fosse e a pequena Tomoko pudesse crescer com saúde.

Quantas Tomokos resultarão do garimpo ilegal do rio Madeira? Um crime, como sempre, acobertado pela conivência corrupta das autoridades brasileiras…

 

 

***Texto originalmente publicado no blog Panis Cum Ovum
  • Autor: acadêmico Roberto Muggiati
  • Foto: Natasha Muggiati
  • Imagem: A Pietá de Minamata por W. Eugene Smith