O Instituto Histórico e Geográfico do Paraná é hoje a primeira e uma das mais importantes instituições histórico-culturais do Estado. Foi fundado em 24 de maio de 1900, como celebração nacional comemorativa do quarto centenário do descobrimento do Brasil. Surgiu no bojo da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, tendo como modelo o Institut Historique de Paris. Foi fruto do idealismo e da persistência de um pugilo de intelectuais paranaenses, com merecimento maior a Romário Martins, a quem coube a ideia de propô-lo e incentivá-lo, chegando até a ceder sua própria residência para sediar suas primeiras reuniões de fundação e reestruturação.

Neste ano, porém, nosso grêmio histórico celebra 119 anos de vitoriosa jornada, mas esse caminho só foi vencido enfrentando as carências e as dificuldades naturais de uma cidade que, a esse tempo, contava com menos de 50 mil habitantes.

A solenidade de inauguração teve por cenário a biblioteca do Clube Curitibano, contando com a presença de apenas seis pessoas, que formalizaram a criação da nova entidade, seguida da composição de sua diretoria provisória, sob comando de Romário Martins, e seus secretários Sebastião Paraná e Ermelino de Leão, além da constituição de uma comissão incumbida da redação dos seus estatutos.

Dados, porém, esses primeiros passos, a sociedade voltou a se reunir outras quatro vezes, ainda naquele ano. Depois disso, entretanto, já não mais teve sessão, vencidos cinco anos, até 1906, na Biblioteca Pública, onde se repetiu a composição de uma nova diretoria, sob a presidência de Chichorro Júnior e a criação de Comissões Permanentes, acompanhadas da promessa de redobrar o empenho de todos para dotá-la de vida permanente.

Entretanto, nem mesmo assim o instituto ganhou permanência e voltou ao estado anterior de latência, por iguais cinco anos, até 30 de setembro de 1911, de que só deixou notícia da eleição de Romário Martins para a presidência. Depois disso, a sociedade se entregou, como antes, à sua tradicional dormência pelo período de outros cinco anos, para voltar em 21 de julho de 1916, agora na residência de Romário Martins, animada do mesmo propósito de dar vida efetiva à instituição. Na ocasião, então, a presidência foi conferida à Marins Camargo e eleito todo o quadro diretor, bem como aprovada a edição do boletim do instituto, com a composição de sua comissão de redação.

Assim, passados 18 anos de sua fundação foi editado o primeiro número do Boletim do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, impresso na gráfica da Penitenciária do Estado, datado de 1918, mas correspondente ao ano de 1919. Com esse primeiro exemplar e apesar de longos intervalos das primeiras décadas, o Instituo seguiu dando a público a edição de seus boletins, com regular constância, que se prolonga até hoje alcançando a soma de 71 exemplares anuais, ocupando o posto de guardião do nosso saber histórico e geográfico e contribuindo para o resgate, interpretação e divulgação da nossa memória regional, histórica e social.

Assim, para comemorar a edição centenária dessa primeira publicação e lhe emprestar toda significação histórico-cultural, a diretoria atual do Instituto fez reeditar em fac-símile o Boletim n.º 1, de 1918, contendo quatro dos seus primeiros fascículos, com a notícia histórica da fundação da entidade e a composição de suas quatro primeiras diretorias, como também reproduz o teor do estatuto da própria sociedade.

O boletim refaz também o alentado artigo de Sylvio Romero sobre o provável Estado do Iguaçu, revelando o grau de interesse que a disputa do Contestado provocou em todo o país. Sylvio com seu estilo ardoroso faz uma ampla exposição dos contrastes da divisão política do Brasil, e, no caso, formula uma proposta de composição política e administrativa dos dois estados, fundindo ambos os territórios, sob o título de Estado do Iguaçu, com capital na cidade de União da Vitória.

Moreira Garcez também participa da edição, mas não como prefeito que foi de Curitiba, por dez anos, mas como diretor de Obras e Viação, durante o governo de Carlos Cavalcanti. Seu trabalho é de 1912, apresentado ao Primeiro Congresso Nacional de Estradas de Rodagem de 1916, no Rio de Janeiro, como representante do Paraná. Sua memória oferece um amplo quadro do nosso sistema rodoviário, que sustenta ser o primeiro do país.

Garcez deixou obra memorável no Estado, remodelando a cidade de Curitiba, sua feição e a geografia das suas ruas.  Criou a “Cidade Nova”, de avenidas com dupla pista de 30 metros cada uma, com amplas calçadas e um canteiro central. Retificou a estrada da Graciosa, para ele uma obra técnica admirável. E tem o “arranha céu” do Edifício Garcez como o 3.º mais alto do país.

Entretanto, sua Memória ao Congresso, constitui amplo trabalho técnico sobre a construção e conservação de estradas de rodagem, que, a esse tempo, deviam ser carroçáveis. É obra de ensino técnico de engenharia de construção de estradas de rodagem.

O boletim constitui grosso volume, que ainda contém outros tantos trabalhos de proveito histórico, como a notícia do livro da descoberta do Brasil, de 1507, atribuído a um piloto português, com a descrição da viagem de Cabral e a descoberta do país, que, apesar da polêmica que suscita, contém, porém, a mesma narrativa de Vaz de Caminha, com exceção da data da descoberta, mencionada como de 24 de abril, quando é de 12 do mesmo mês.

Enfim, o Boletim é, sobretudo, um símbolo. Uma manifestação do orgulho natural de se ver consolidada como bastião de nossa cultura histórica regional. Foram muitas as dificuldades para sua sobrevivência, que quase a tornaram mero departamento da Universidade Federal.  Mas suas reuniões já foram tantas vezes centro de vida e confraternização da cultura paranaense, como ocorreu com as participações de Rocha Pombo, Romário Martins, Sebastião Paraná, Ermelino de Leão, David Carneiro, Luiz Carlos Tourinho, Erasmo Piloto, e, no plano nacional as presenças de d’Escragnolle Taunay, Pedro Calmon, Alfredo Ellis, Clóvis Beviláqua, Cândido Rondon, Carlos Tasso de Saxa-Coburgo e Bragança e tantos mais.

Assim, de despedida, esperamos que outros tantos centenários possam ainda ser celebrados em sua homenagem.

  • Autor: Acadêmico Rui Cavallin Pinto
  • Foto: Arquivo
  • Imagem: IHGPR