A ideia de dimensão não faz parte da natureza, mas é um produto de nossa atividade mental, que sintetiza uma acuidade em perceber a superfície dos objetos. Dessa forma, torna-se possível a distinção de uma miríade de dimensões em cada observação, sendo que tradicionalmente vivemos envolvidos em três dimensões, distinguíveis pela geometria: ponto ou linha, plano horizontal (largura), e altura ou profundidade. Não obstante, segundo a teoria das cordas, na microfísica, os átomos se nos apresentam em onze dimensões diferentes (sic).

Não obstante, é possível distinguir entre uma perspectiva unidimensional, daqueles seres que vivem em apenas uma dimensão, como ocorre com as reações celulares ou os vermes. Já em segunda dimensão vivem as plantas e os animais inferiores, sem capacidade de superar seus determinismos naturais. Por fim, há as percepções em terceira dimensão, quando os seres, fazendo uso de suas sensibilidades sensoriais, alteram seus determinismos, apresentando reações inesperadas, como ocorre entre os animais superiores e o ser humano.

Contudo, podemos verificar que os seres humanos possuem uma quarta dimensão, obtida, seja pelo trabalho exclusivo de suas mentes (razão) ou por percepções puramente transcendentais, de caráter difícil de serem compreendidas. Assim, por exemplo, a noção de espaço-tempo, no qual o tempo é a quarta dimensão do espaço; ou a experiência da liberdade, cindida entre a contingência e o arbítrio; ou o mundo místico, das orações e da fé.

Verificamos, portanto, que a quarta dimensão tem origem em nossa capacidade espiritual, concebendo todas as experiências de nossa vida de forma simbólica e virtual, que Kant chamou de mundo transcendental, por se encontrar a meio caminho entre a observação e as intuições próprias de nosso espírito. O mesmo acontece com o conceito de vida, do qual não temos condições mínimas de compreendê-lo, pois há uma diferença radical entre o ser vivo e o morto. Contudo, como o transcurso de um círculo, a experiência da vida mais parece a concessão de uma graça que começa e termina em pontos diferentes e mantida como um milagre gratuito. Semelhante a uma espécie de movimento, a vida só pode ser compreendida em quarta dimensão, onde não há começo nem fim. Aqui se encaixa nossa certeza da imortalidade.

Quanto às considerações referentes ao Universo como um todo, em dimensão quaternária, ele nos parecerá não como os astrônomos normalmente o consideraram até aqui, mas sim como dotado de uma realidade holística e unitária, abrangendo informação, criatividade e direção e por estar dotado, desde o início, de telefinalismo e design inteligente.

Como se observa finalmente, a quarta dimensão não se situa no nível da linguagem, mas representa um salto na direção de uma intuição direta de tudo que nos afeta, principalmente naqueles casos que normalmente não encontram uma forma de expressão adequada para a sua compreensão, como ocorre, por exemplo, quando são abordadas questões relativas à vida após a morte, o carma ou a presença de Deus no Universo, pois, para muitos, o que pode ser expresso não demonstra consistência, por sua própria característica verbal. Na quarta dimensão são abandonados as linguagens e os gestos em favor do silêncio e da meditação. Tudo isso resulta de nossa deficiência em compreender as antinomias expressas em conceitos, para tentar outras formas de percepção, principalmente daquelas atinentes às situações-limite, como pensou Karl Jaspers. Uma oração resume nosso desejo:

Oh Senhor! Dai-nos a graça de sentir a quarta dimensão de vossos mistérios,

tornando-nos capazes de vivenciá-los.

  • Autor: Acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: Arquivo
  • Imagem: Pete Linforth por Pixabay