O Museu Paranaense, a princípio Muzeo de Coritiba e jardim de aclimação, foi criação proposta por Agostinho Ermelino de Leão e José Cândido da Silva Murici, em 1974, visando dar destino aos sobejos da participação da província em exposições anteriores, no domínio da zootecnia e da agricultura.

Sua criação veio em setembro de 1876, por ato do presidente Lamenha Lins, com a nomeação de uma comissão provincial incumbida de sua instalação, composta pelos proponentes e o engenheiro André Chalréo Júnior. Foram feitas reformas no antigo mercado do Largo da Fonte (hoje Praça Zacarias) e acomodado seu acervo de 600 peças (hoje são cerca de 400 mil), constituído de objetos pessoais, mobiliário, uniformes, mapas documentos e boa parte de produtos da flora provincial, mais amostras de minerais.

Foi assim criado o hoje Museu Paranaense, instituição particular, franqueada ao público e destinada ao resgate e a guarda da cultura e da história do Paraná. O primeiro da então província do Paraná e, após 1882, o terceiro museu público do Brasil.

Ainda nas primeiras décadas do nosso século, a historiadora Cíntia Braga Cardeiro editou sua dissertação de Mestrado, do Curso de Pós-Graduação em História da UFPR focalizando o papel do Museu Paranaense, sob a direção de Romário Martins, entre os anos de 1902 a 1928, e sua contribuição para a construção da identidade paranaense, com vistas ao modelo paranista, que foi pregação do seu ideário político-social durante os anos 20 e 40 da República.

Entre os primeiros diretores do Museu, Cândido Murici faleceu em 1879 e o desembargador Agostinho em 1901, mas embora sucedido por seu filho Ermelino de Leão, este se exonerou ainda menos de 1 ano de exercício, alegando a impossibilidade em dar sequência à sua gestão.

Então, em abril de 1902, o presidente Xavier da Silva nomeou diretor Romário Martins, que permaneceu no cargo pelos próximos 26 anos, até fevereiro de 1928, mantido pelos governos de Xavier da Silva (duas gestões), Vicente Machado, João Cândido Ferreira, Joaquim Monteiro de Carvalho e Silva, Alencar Guimarães, Carlos Cavalcanti, Afonso Camargo e Caetano Munhoz da Rocha.

A dissertação acadêmica de Cíntia se serve do período da administração de Romário à frente do museu, para recolher os respingos que ela deixou da construção da identidade paranaense e sua expressão ideológica representada pelo movimento paranista, que vigorou entre os anos 20 e 40.

Sua animação foi a de que, passados tantos anos, ainda faltava trabalho aprofundado sobre o período e sua contribuição científica, incluindo o tema da nossa imagem regional.

Sobre o período posterior de 1940 a 1960, o organizador Fabiano Ardigó e seus colaboradores já nos haviam dado um estudo amplo, com o título de um surto regional improvável de ciência, que incluía a presença e atuação de Romário Martins na direção dos primeiros tempos do Museu Paranaense. Um tempo de duas décadas durante o qual se atribuiu o início das pesquisas científicas da instituição.

Até então os museus eram vistos como gabinetes de curiosidades. Serviam para expor amostras da riqueza do estado em feiras, ou para acomodar interesses políticos. O nosso passou a ganhar cunho científico quando da direção do médico José Loureiro Fernandes.

Ao assumir a direção em 1936, Loureiro consolidou seu corpo diretor e passou a lhe imprimir caráter de instituição científica, conquistando prestígio nacional e internacional.  O principal instrumento desse prestígio foi a publicação dos Arquivos, tanto pela sua qualidade editorial como pela abordagem de temas do interesse das instituições congêneres. Outrossim, o período pode revelar a presença e participação de figuras da maior expressão do nosso painel científico, como o padre e entomologista Jesus Moure, o geólogo Reinhard Maack, o paleantólogo Frederico Lange e outros que imprimiram especial destaque à nossa ciência regional.

Quanto às décadas da direção de Romário, para Ardigó sua gestão, na verdade, não ficou marcada por pesquisa, como ele mesmo chegou a arguir, senão pelo empenho em revelar as potencialidades naturais e humanas do estado, a serviço do movimento chamado “Paranismo”, de sua promoção.

Até então, em termos nacionais, museu não era considerado instituição de referência em pesquisa científica e para os historiadores tampouco se praticou ciência, desde a fundação, em 1876 até o fim de 1930. O que se diz é que Romário apenas prosseguiu a obra dos seus fundadores, imprimindo métodos de seleção e classificação do seu acervo e mostruário.

Os recursos públicos eram então insignificantes e o museu só contava com donativos de particulares e promoção de festas e eventos. Como redator-chefe de A República, porém, Romário se serviu do jornal para dar notícia do Museu e colher doações de nossa fauna, mineralogia e arqueologia brasileira. Em 1924 recebeu de Telêmaco Borba rico acervo indigenista. Participou da comissão de organização da Exposição do Cinquentenário da Província e como deputado estadual foi relator das leis de proteção da nossa flora e fauna, tornando o Paraná o primeiro estado a aprovar seu Código Florestal (1907) e a contar com leis de reflorestamento, Código de Caça e Pesca e exploração da madeira.

Fez assim obra abundante e influente que confirmam o destaque de sua presença. Sua gestão à frente do museu não foi, porém, a maior, como tampouco a menor. Os tempos eram outros e hoje sua memória representa uma soma de ideais e esforços de quem cumpriu seis mandatos de deputado estadual e deixou uma bibliografia de cerca de 100 títulos a serviço do Paraná, além de representar um dos nossos mais agressivos defensores da sua territorialidade e paranidade. Vejo aqui dois lados compondo o mesmo quadro: num tempo e no cenário de suas próprias circunstâncias.

  • Autor: Acadêmico Rui Cavallin Pinto
  • Foto: Arquivo