Como se observa, a Natureza destrói para recriar. Sem essa destruição, ela não teria condições de se manter num processo contínuo de renovação. Nosso espírito, perspicaz como é, observa essa destruição como uma circunstância virtual, necessária para manter o Universo funcionando.

Ora, esse ciclópico processo de destruição cósmica tem início desde o microcosmo, no qual as partículas, como numa dança ondular, pulsam de forma aparentemente desordenada, chamando a nossa atenção sobre as formas como elas puderam se transformar em Cosmos, produzindo a eclosão de substâncias, seres vivos, minerais, galáxias e planetas.

Pois que nada termina sem um estágio correspondente de recomeço, como ocorre no mundo dos átomos, percebe-se que a Natureza segue os mesmos princípios, considerando a destruição apenas como um momento provisório na sucessão constante das coisas. E é dessa forma que devemos considerar nossa existência, um momento apenas de conscientização de nossa presença na sucessão temporal da Natureza.

A palavra dialética tem origem grega e significa um discurso em contraposição, indicando que a Natureza funciona com base em aspectos contraditórios, mas que no final se complementam. Segundo Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, existe um logos que mantém o equilíbrio dos contrários, sem o qual as contradições não teriam condições de se superar.

Depois de Heráclito, coube a Hegel chamar a atenção para o labor de nosso espírito, que consegue, de forma conceitual, captar os três momentos dessa dialética que se apresenta como tese, antítese e síntese, ou seja, um momento de afirmação, seguindo-se outro de negação e a síntese como superação, que, em perspectiva teológica, corresponde aos reinos do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Dessa forma, tudo se torna transcendente, pela convivência divina de um Universo em evolução. Por isso, os momentos do existir são colapsos quânticos gerados pelo pulsar virtual de um Verbo cujo único propósito é o amor sem limites.

Portanto, se nada há de definitivo, havendo sempre a renovação dos acontecimentos, nossas esperanças não terminam em fracasso, se nossa fé tiver a força suficiente para concretizá-las. Em acréscimo, no que diz respeito aos limites de nossa existência, é coerente a perspectiva de que, após nossa morte, abrir-se-á a plenitude de um novo momento, que aguardamos seja pleno de transcendência e alegria.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
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