Parafraseando HEGEL, ousamos dizer que tudo que é virtual é também real. Sem dúvida, todos nós, seres humanos, desejamos alcançar coisas concretas, palpáveis, que sejam acessíveis aos nossos sentidos. Não obstante, as coisas não são assim, e nos parecem ser difíceis de serem atingidas. Como diria BERGSON, é como se nossos sentidos não estivessem suficientemente preparados para atingi-las, criando um embaraço em nossas condições naturais de integração com as coisas.

Daí o surgimento das situações de virtualidade para superar estas dificuldades, dadas as características nebulosas e pretensamente ocasionais que envolvem todos os fenômenos relativos a nossos conhecimentos, nos levando a construir um artifício epistemológico destinado a satisfazer nossos ímpetos espirituais de compreensão de tudo.

PIERRE LÉVY no livro O Que é Virtual (SP, Ed 34,1999), distingue quatro modos de ser: dois latentes, o possível e o virtual; e dois manifestos, o real e o atual. Assim, o real concretiza o possível e o atual concretiza o virtual. Assim, o virtual é um prognóstico, uma situação subjetiva, uma configuração de tendências, um propósito de ação, que se atualizam na dinâmica da transformação.

Dessa forma, cumpre considerar o virtual como constituindo a própria realidade, quando as coisas existentes nos parecem ser apenas vislumbradas, no sentido de se nos apresentarem bastantes subjetivas, ocasionais ou frutos de nossa imaginação, criando uma situação embaraçosa para nosso espírito, que sempre anseia atingir o verdadeiro e o concreto, cabendo a nós apenas considerar as condições pelas quais tudo que é virtual possa parecer de fato real.

Assim, são exemplos de virtualidades tudo que é vislumbre de realização, a concreção esperada de certos fenômenos, como ocorre na expectativa das orações, nos sinais da presença de Deus, em nossos projetos de futuro, os dados estatísticos variados (como o PIB, índices de produção, riqueza, etc.); também as expectativas de vida, os transcendentais de nossa mente, como os valores, a felicidade, a liberdade ou a paz. Ora, isto ocorre pela transcendência do Espírito, que presente no mundo, ultrapassa o fático, procurando efetivar o melhor, dando assim sentido a uma criação instável e imperfeita, no sentido pontual.

A tecnologia atual se constitui numa forma dinâmica de efetivar a exploração de virtualidades, como os novos processos de pesquisas, os aparelhos virtuais, que criam realidades cheias de fantasia e artificialidade, aperfeiçoando e facilitando a vida normal das pessoas. De larga aplicação no lazer, tem tornado a vida mais divertida, como a televisão, os fones celulares ou os videogames.

Ora, tudo isso só se tornou possível pela concretização das artificialidades inerentes ao nosso espírito, parcela de uma natureza humana cheia de poderes e transcendência, sem os quais nada teria sido possível, cabendo a nós reconhecer o caráter original de que somos dotados como espécie humana, uma espiritualidade criativa, racional, mas dotada de sentimento e liberdade. Dessa forma, cabe-nos reconhecer em que tipo de realidade estamos imersos, na qual as virtualidades são mais reais que aquilo que indicam nossos sentidos exteriores, pobres e insuficientes para abarcar a complexidade do Espírito que nos abriga.

  • Autor: Acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Imagem: Arquivo