“Tarde te amei, ó velha e nova Beleza, tarde Te amei. Tu estavas comigo e eu longe de Ti, sem perceber-Te“. Foi assim que Sto. Agostinho procurou conciliar a mística do neoplatonismo com sua crença cristã, na certeza de que as manifestações estéticas do Universo não são outra coisa que a revelação de um ato criador provindo de Deus.

A presença da beleza no Universo é um indicativo forte de que a criação não é apenas um projeto físico-material, pois que possui igualmente fortes aspectos estéticos, virtuais e presentes em todos os objetos e acontecimentos. Assim, tudo o que aparece na Natureza possui um quantum de beleza cujos detalhes se espraiam por toda parte, nos capacitando a percebê-los, pela presença em nós de um Espírito que os sustenta.

Pois que não teria cabimento a existência da beleza, se não houvesse uma virtualidade estética em cada acontecimento, ansiosa para ser admirada, demonstrando assim a sua espiritualidade intrínseca. Igualmente, o caráter absoluto dos aspectos da beleza na Natureza faz com que o não belo, ou o feio, passem a possuir, também, um aspecto intrínseco de formosura, bastando apenas que o apreciemos de outra forma (sic!).

Joseph Brodski, poeta russo, (1940/1996), prêmio Nobel de Literatura-1987, nos assegura que a Beleza salvará o mundo, com a consciência de que no fundo ela se confunde com o Bem, a unidade transcendental de todos os valores, um espelho de Deus refletindo a Sua subtilidade.

Se a arte moderna perdeu a harmonia clássica das formas, isto apenas nos demonstra que a Beleza é detentora de aspectos de absoluta independência, confirmando sua origem virtual. A beleza é infinita em suas formas, não havendo limites para a sua ocorrência, o que demonstra a sua original dispersão presente ao simples abrir de nossos olhos, nos convocando à contemplação e à admiração por uma Natureza caprichosa em todos os detalhes. Refletindo sua espiritualidade, ela é simétrica em suas formas, colorida sem ser aberrante, inspirando todos para uma arte que é pura liberdade. A imensidão do cosmos e suas distâncias refletem o poder criador de Deus, tendo a energia da luz como fonte eterna de sua potencialidade infinita. Ora, esta mágica da criatividade não poderia ter surgido por acaso, pois possui também um sentido de harmonia e evolução, conforme constatam os cientistas honestos.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: Bessi por Pixabay