Curitiba foi fundada em 29 de março de 1693, onde hoje é a Praça Tiradentes, quando Matheus Martins Leme, capitão povoador, atendendo o apelo dos moradores, promoveu a eleição da Câmara de Vereadores e a instalação da vila de Nossa Senhora dos Pinhais, depois convertida em vila de Curitiba, por designação do ouvidor Pires Sardinha, em documentos oficiais.
Sua origem tem também versão oral de que se instalou também, na sua vizinhança, outro povoado, constituído de palhoças, com o nome de “Vilinha”, ou, depois, “Vila Velha”, localizada às margens do rio Atuba, entre o Bacacheri e Atuba, à mão esquerda do caminho de Itupava.
Conta-se que seus moradores mantinham na “vila” uma pequena imagem de Nossa Senhora da Luz, mas, de um tempo em diante, pelas manhãs a imagem tinha os olhos voltados para Curitiba de hoje. Diante dessa insistência os moradores pediram ao cacique Tindiquera, de uma tribo local, que descobrisse o que a imagem queria dizer. Então o cacique, aceitando a missão se serviu de uma vara e, explorando o local, fincou a vara num ponto do chão e disse a todo: “É aqui!”
Assim a sede da vila passou para o plateau curitibano, assentada num outeiro entre os rios Ivo e Belém, onde, nos primeiros séculos, permaneceu como arraial de garimpeiros de ouro e mineradores. Nos campos criavam gado e nas terras cultivavam pequenas lavouras.
Para Edilberto Trevisan, louvado no historiador português Jaime Cortesão, a chapada curitibana constituiu uma área de disputa entre Portugal e Espanha, provocada pela pretensão portuguesa de estender seus domínios até as margens do Prata. Daí os antecedentes das incursões de preadores de índios e exploradores de ouro pelos campos do sul e fundações do Guairá.
Assim, e pelo que mais se diz, a fundação de Curitiba nos leva a supor que, com a separação da união ibérica e a restauração da nação portuguesa, com a aclamação do Duque de Bragança como rei D. João IV, o governo de Lisboa preparou um plano estratégico destinado a estabelecer um núcleo na região, capaz de prover a movimentação e ocupação desse imenso espaço vazio do Brasil meridional e a margem esquerda do Prata.
Desses primeiros tempos,1720, temos notícia por carta do ouvidor-geral, Pires Sardinha, ao rei de Portugal, que as duas freguesias de Curitiba não contavam senão com 200 casas e 1.400 habitantes de confissão.
Cem anos depois, em 1820, quando o naturalista francês Saint-Hilaire passou por Curitiba, ela era sede de comarca, mas ele só viu uma comunidade muito simples, contando com pouco mais de 220 casas, na maioria pequenas e feitas de pedra.
Nosso historiador Romário Martins ao fazer o inventário da cidade, de 1820 a 1836, identifica as mesmas 220 casas e nove ruas, projetadas da praça central. As casas são habitações rústicas, só realmente ocupadas nos domingos festivos ou de reza, devido às atividades agrícolas.
Em 1812 passou a ser sede da 5.ª Comarca de São Paulo, posição antes ocupada por Paranaguá. Depois foi cidade em 1842 e se tornou capital em 1853, com a Província do Paraná.
Em 1857, é sede do governo provincial e foi confiada ao engenheiro francês Pierre Taulois, que assumiu o encargo de elaborar o primeiro projeto de sua remodelação, mediante o alinhamento das ruas, com vistas a favorecer as atividades administrativas e políticas do governo local.
O curso do século vai trazer a riqueza da erva-mate e a presença do imigrante europeu em grandes levas; aportes que vão refletir no resgate econômico da Província, como também na sua composição social, com a formação de uma categoria de trabalhadores livres e industriosos, afeitos ao projeto de colonização, além da formação de uma classe média dirigente que passa a assumir seu destino político.
Então, com o transpor do novo século, a pequena cidade, com pouco mais de 50 mil habitantes, passa a ganhar maior espaço social e melhores equipamentos urbanos. Sua arquitetura assume expressão eclética e cria espaço para os rituais sociais. Os palacetes apregoam sua riqueza e as marcas de sua individualidade. São muitas as transformações e as ofertas de conforto urbano e entretenimento. O bonde a burro faz a linha Batel-Passeio Público até a chegada do bonde elétrico, em 1913. O Passeio Público é inaugurado e construído o Teatro S. Teodoro. A rua XV é alargada e pavimentada de paralelepípedos e abrem-se lojas de moda e surgem restaurantes e cafés, que entretêm artistas e intelectuais.
O projeto do urbanista e arquiteto francês Alfredo Agache, em 1943, vai trazer importante remodelação urbana da cidade, com a setorização do seu espaço e a inclusão dos cuidados com o meio ambiente. Adota a abertura de avenidas perimetrais e um sistema radial de grandes vias convergindo para o centro. Cria os “centros”, como o Cívico, Comercial, ou o Industrial, etc.
O plano acabou abandonado atingido pela crítica e pelo tempo. Seus críticos acusaram estar reduzido à área urbana e se mostrado indiferente às adjacências. Minimizou o potencial de crescimento da cidade e, ao tempo, se mostrou impraticável, porém deixou marcas que permanecem até hoje.
Aproveitando a desoficialização do ensino superior, nossos optimates já haviam fundado, em 1912, a Universidade do Paraná, objeto do nosso orgulho nativo e ousadia.
Enfim, Curitiba é hoje classificada pela Unesco como uma das cidades mais sagazes do mundo, por se preocupar, por igual, em se manter ecologicamente sustentável, além de zelar pela qualidade de vida e sua infraestrutura e seu dinamismo econômico.
Enfim, Curitiba foi celebrada em verso, como “cidade sorriso” pelo poeta Hermes Fontes, mas, falando franco, o levantamento recente do Instituto Paraná Pesquisa revelou que, durante o acompanhamento do processo da Lava Jato, das pessoas de outros estados, 47,3% não sabia em que região ficava o Paraná e a outra metade, não tinha idéia de Curitiba. Assim, para parte do Brasil somos desconhecidos. Ainda, 99,1% não soube citar um escritor ou uma pessoa de destaque nacional do Paraná.
Esse é, talvez, o preço de quem se faz sozinho. Os outros olham mas não enxergam!…

  • Autor: Acadêmico Rui Cavallin Pinto
  • Foto: Arquivo