Por ter em mim propriedades não naturais, ou uma consciência reflexa que me permite identificar-me comigo mesmo, expressando meu eu como dotado de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, sinto-me possuidor de uma centelha divina que me diferencia de todos os outros seres, tornando-me, por isso, uma criatura não apenas animal, mas, sobretudo, espiritual.

Por isso, meu cérebro atua criando coisas maravilhosas, descobrindo relações lógicas, possuindo amor e sentimentos, num sentido amplo de gratuidade, verdadeira manifestação transcendente à mera animalidade. Contudo, posso perverter essas capacidades causando males nunca vistos por nenhuma desgraça natural, transformando amor em ódio, vida em morte, liberdade em escravidão. Detentor do bem e do mal, tenho a responsabilidade de ter que optar pelo melhor, segundo uma inspiração que não me pertence.

Ora, tudo isso é testemunho da presença em mim de um Espírito Virtual, Etéreo e Sobrenatural, mas que é muito real em seus efeitos concretos, criando cultura e história, soando como um chamamento à perfeição e à procura eterna do Bem. Por ser divina, essa centelha é suporte de minha imortalidade, apesar da aparente morte de meu corpo físico, transformando, portanto, completamente, a aparência sensível de minhas fragilidades.

Portanto, viver segundo o Espírito é estar de posse de uma graça superior, tirando-me do sem sentido de todas as coisas, alcançando uma atmosfera de coerência só possível pela graça de um Poder Superior que anima todas as coisas, a fonte imarcescível de todas minhas experiências concretas.

Criador do Universo, conceber esse Espírito como Trindade é uma evidência homóloga a partir das três dimensões que se diferenciam no Universo: o cosmos, o mundo quântico das micro partículas e o mundo virtual, atribuindo que o cosmos corresponde à figura do Pai; o mundo quântico corresponde ao universo do Filho e o mundo virtual corresponde ao universo do Espírito Santo. Como Poder, Milagre e Amor, temos as manifestações básicas da estrutura axiológica do Universo.

Em ressonância mística, encontrar coerência a partir de nossas ilações racionais trará muito mais resultado pela invocação, através da oração, de um Pai Nosso Poético-Filosófico, conforme brota de nossa veia poética:

                         “Pai Nosso transcendente

                          Criador do Universo emergente

                          Vós sois também imanente

                          Em meu espírito consciente.

                                                 Acolhei nossos pedidos insistentes

                                                 Concedendo-nos as graças de que somos carentes

                                                 E tornai nosso coração ardente,

                                                 De amor por toda a gente.”

A percepção de um quadro expressando beleza é um exemplo concreto de ressonância mística, pois esta não se encontra nele mesmo, mas representa um defluxo de nossa mente, por efeito de sua espiritualidade.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: Mondschwinge por Pixabay