O apelo de Cristo em sua oração ao Pai Nosso, invocando a vinda de seu reino, em cumprimento a sua vontade, faz uso de parábolas para explicar a natureza de seu paraíso (Mt, 13). A intenção é realçar os  aspectos milagrosos que circundam a criação, mas principalmente alterar as condições naturais com que estamos acostumados a sentir a eclosão das coisas e dos acontecimentos, antes de uma forma objetiva, natural  e independente de nós.

Assim, o reino é uma vivência virtual, bastando apenas que saibamos acolher as suas características transformadoras e radicais de nossa realidade, cuja obtenção é uma graça eterna em nossas existências. É uma nova visão do céu e da terra, um despertar à magia de uma nova realidade.  Dessa forma, convém elencar algumas daquelas características do reino divino, inspiradas no testemunho vivo do Salvador.

Em primeiro lugar, o reino consiste na presença permanente do Pai na vida de cada um, em todos os momentos, a iluminar nossa consciência e nossos atos. Esta presença é real,  sentida no mais íntimo de cada coração, evitando sempre qualquer deslize pela presença do mal. A oração permanente mantém viva essa presença.

Em segundo lugar, para sentir a nova realidade, precisamos superar a consciência do tempo, passando a desconhecer os seus momentos, tornando-se então puro fluir de instantes, sem começo nem fim. São nossos sentidos externos que ressaltam o passado, o presente e o futuro, mas no Reino Divino não há mais sensação temporal, sendo substituído por um fluir constante de algo atual que não se esgota.

Em terceiro lugar, anular a realidade do mal, concebido agora como provação aleatória de consequências históricas ou imprevisíveis que sofremos no corpo físico ou na consciência, passando então a considerá-los não danosos, mesmo que sejam uma hecatombe ou a morte física, como no exemplo de Jó, no Antigo Testamento.

Em quarto lugar, considerar o ambiente externo como morada de Deus, a manifestação de um Universo que não tem em si mesmo as razões de sua existência, mas que mantém a presença de uma espiritualidade ínsita em todas as suas dimensões, em especial pelo surgimento da energia, a eclosão da vida e de nosso ser, dotado de autonomia e liberdade. Isto não é nenhuma forma de panteísmo, mas sim a percepção mística e espontânea da imanência e transcendência divina.

Em quinto lugar, o reino proposto por Cristo é um reino de amor caridoso, desprendido e humilde, como testemunharam todos os grandes santos que o vivenciaram, bem como as pessoas santas  que continuamente rezam e esperam pela sua eclosão: Deus é espírito e amor.

Dessa forma, as transformações propostas pelo novo reino significam uma radical postura diante de tudo, agora centrada exclusivamente  na convivência com o sagrado, cujas consequências se darão em todos os sentidos, mas especialmente no campo social, transformando-o radicalmente, pelo império do bem no coração da maioria das pessoas. Participar do reino é manifestar alegria, numa saudável integração com a comunidade, pelo abandono da ganância e da usura, a partir da fé, da esperança e da caridade: Senhor! Que venha a nós o Vosso Reino!

  • Autor: Acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: Arquivo
  • Imagem: Stergo por Pixabay