O contestado territorial entre Paraná e Santa Catarina

Motivação inicial: misturar religião e política não dá bons resultados.

 

Com a separação de São Paulo da 5ª Comarca, em 1853, ficou como pertencendo ao Paraná um vasto território que alcançava até as fronteiras do Rio Grande do Sul. Como não havia ainda um tratado de fronteiras entre o Paraná e Santa Catarina, e como os problemas de fronteira eram tratados entre os estados de forma política, não ainda jurídica, o Estado de Santa Catarina, em 1901, entrou no STF com uma solicitação para que este reconhecesse a posse de largo território abaixo do Rio Iguaçu, contando com a petição, com a influência política de líderes importantes na esfera federal, como Lauro Muller.

O Paraná já havia manifestado preocupação com o problema, tendo designado uma comissão para estudar os direitos do estado, enviando inclusive um representante a Portugal, para certificar-se da autenticidade dos documentos que Santa Catarina argumentava possuir. Foi então que o estado do Paraná, apesar das argumentações levantadas pelo Conselheiro Joaquim da Costa Barradas, veio a perder a questão, pelo reconhecimento das fronteiras naturais como legítimos à petição de Santa Catarina. O STF encerrou a discussão em 1910, dando ganho de causa aos catarinenses.

 

O “Estado das Missões” e o acordo de 1916

A reação dos paranaenses foi imediata, chegando a propor ao governo federal a criação de um novo estado, das Missões, caso não fosse possível recuperar o território contestado. Como a ameaça de um conflito bélico na região estava iminente, o Presidente da República, Wenceslau Braz, conclamou as partes à realização de um acordo, que terminou com a renúncia do Paraná ao contestado Norte (Itaiópolis, Papanduva s e Canoinhas), ficando com o território de Palmas e Clevelândia, com divisa pelo rio do Peixe. O acordo definitivo foi assinado em 1916.

 

O problema social

Em 1908 ocorreu a construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, a cargo da multinacional norte americana Brazil Railway Company, atravessando justamente as terras contestadas. Como o pagamento acertado seria através de glebas de terras, os colonos da região se viram diretamente prejudicados pelas desapropriações, acossados que estavam tanto pelos coronéis proprietários como pelas milícias da multinacional, que os expulsavam com violência.

 

Os “monges”

Em fins do século XIX começaram a surgir no Brasil umas figuras estranhas, misto de profetismo e religião, denominados monges, dos quais ficaram famosos três: o primeiro foi João Maria d’Agostini, imigrante italiano, que chegou no Brasil em 1844. Percorrendo a região sul do Brasil, exortava à prática do bem e das virtudes. Desapareceu não se sabe quando nem como.

O segundo monge, Anastás Marcaf, que surgiu na Lapa durante a revolução federalista, em 1894. De índole pacífica, vivia retirado numa gruta, local hoje muito visitado por turistas.

O terceiro monge, Miguel Lucena, ou José Maria de Agostinho, surgiu na região do Contestado, insuflando o povo à resistência. Não atacar, mas resistir era seu lema. Criou uma guarda pessoal e manteve forte liderança sobre os colonos. Não obstante, recusando-se a atender a um doente da família do coronel Alburquerque, provocou as autoridades ao início de uma luta fratricida.

 

A sublevação bélica

Com vistas a prender o monge revoltoso e pacificar a região, a Polícia Militar do Paraná resolveu enviar um contingente de soldados sob o comando do Coronel João Gualberto Gomes de Sá. Na região de Iraní ocorreram os combates mais violentos, e as tropas do governo, não podendo fazer uso de metralhadora, viu-se cercada pelos colonos, que, em luta corpo a corpo, mataram o Comandante das tropas e o monge revoltoso.

O reagrupamento dos fanáticos deu-se em Taquaruçu, próximo ao município de Curitibanos, que infligiram às tropas federais uma nova derrota, apesar do pesado fogo das metralhadoras. Fugindo para Caraguatá, a tropa rebelde, agora transformada em verdadeiros jagunços, para roubar e matar, foram finalmente cercados em Santa Maria, sofrendo grande derrota. Ao todo, foram necessárias treze expedições para que a ameaça dos jagunços fosse dizimada.

 

Os ideais políticos da revolta

Simpáticos à monarquia, o movimento tomou características de reprovação à república recém instalada, com a pretensão de estabelecer uma monarquia sul-brasileira, tendo sido escolhido um ricaço catarinense para ser o novo imperador.

 

Material escrito por Antônio Celso Mendes, da cadeira 34, baseado no livro de Ruy Christovam Wachowicz.