A ciência universal oferecida pelos antigos pesquisadores era apenas mecânica, dependente de nossos cinco sentidos e dos preconceitos que pudessem transparecer qualquer forma de antropomorfismo que visasse comprometer a racionalidade científica. Com isso, não aceitavam, por exemplo, a teoria aristotélica das quatro causas (material, formal, eficiente e final), por considerá-la como produtos puros da imaginação filosófica. Não obstante, não há conhecimento que não seja antropomórfico, pelo simples fato de que é a inteligência humana que os cria. Corroborando, a atual mecânica quântica veio confirmar essa dependência, modificando completamente as maneiras tradicionais de fazer ciência, importando substituir também nosso conceito de realidade, que agora se manifesta virtual e puramente mágica.

Agora, a matéria é uma dança de microcordas, reagindo ao sabor de nossas experiências de laboratório, nas quais as micropartículas comportam-se ora como onda, ora como fótons, realçando, portanto, o papel proeminente que exerce nosso pensamento (espiritualidade), ao moldar o perfil da realidade. Isso, para nós, é uma consequência de fundamental importância, ao ficar demonstrado o papel importante do conhecimento em constatar a verdadeira realidade das coisas.

Ora, essa realidade agora virtual só existe pelo espírito que em nós habita, nos capacitando a sermos, criativos, racionais, sentimentais e libertários, as quatro características que constituem nossa essência, ao vivermos uma realidade confirmada apenas pelo conhecimento e pela sabedoria, confirmando a tese de George Berkeley (1685-1753), que deu ênfase ao fato extraordinário de que a realidade sem o pensamento não existe (esse est percipi).

Os efeitos quânticos das micropartículas estão aí a nos demonstrar seus produtos milagrosos, criando uma variedade incalculável de seres exóticos, enriquecendo assim o palco da Natureza em sua variedade criativa. Igualmente, as inovações tecnológicas têm permitido alcançar conquistas jamais imaginadas pelos pesquisadores, em comunicações eletrônicas que têm alterado profundamente a rotina de nossa vida, como a televisão e os celulares.

Por consequência, importa reconhecer que o Universo, em suas macro dimensões, possui características puramente aleatórias, nos obrigando a ter de concluir que sem a presença do Espírito jamais as coisas poderiam ter se formado, cabendo à raça humana o privilégio de constatar sua presença explícita, num evoluir histórico que não se dá pelo acaso imediato.

Em relação ao nosso comportamento diante desse mundo virtual, seria bom seguirmos as recomendações de São Paulo em Cor 7-29: “Eis o que digo, irmãos: o tempo se abreviou. Doravante, aqueles que têm mulher sejam como se não a tivessem, os que choram como se não chorassem, os que se alegram como se não alegrassem, os que compram como se não possuíssem, os que tiram proveito desse mundo como se não aproveitassem realmente. Pois a figura deste mundo passa. Eu quisera que fôsseis isentos de preocupações…”.

Dessa forma, tal ética transgressora representa uma nova atitude diante da realidade proposta por nossos humores subjetivos, que nos aconselham apenas um utilitarismo prático. Porém, face aos novos parâmetros virtuais da realidade, só nos resta acolher com humildade as condições precárias que envolvem nossa vida, tornando-nos dóceis aos apelos do Espírito, origem e fim de nossas existências.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: Gerd Altmann por Pixabay