O jornalista e professor Hélio Puglielli foi eleito nesta quarta-feira (5/2) para a Academia Paranaense de Letras.
O escritor Adherbal Fortes justificou seu voto para o novo ocupante da cadeira n.º 20, Hélio Fileno de Freitas Puglielli, e reproduzimos sua explicação a seguir.
“A cadeira, todos lembram, foi do Luiz Geraldo Mazza, admirado jornalista da geração dos anos 1960, que frequentemente advertia da pobreza criativa das nossas elites intelectuais. Antes pertenceu a Samuel Guimarães da Costa, historiador do Ciclo do Mate, conselheiro político de Paulo Pimentel, que defendeu uma literatura brasileira filtrada pela inteligência paranaense. Esses dois deram-nos a rota e a missão que, se depender deste eleitor, devem passar a Hélio Puglielli, no mínimo para homenagear a memória do Mazza e do Samuel.
Hélio é o jovem corajoso que, em 1958, ajudou a convencer Aristides Merhy e Fernando Camargo a criar o Suplemente Literário de O Estado do Paraná, onde foi colaborador e secretário, acumulando a função de correspondente da revista Leitura, editada no Rio de Janeiro. Ainda achou tempo para vencer o prêmio de crítica literária do Concurso Universitário Nacional de Literatura promovido em 1959 pela revista O Cruzeiro em convênio com o Capes/MEC. E para participar das coletâneas ‘Contos de Repente‘ (com Jamil Snege e Ayilton de Sisti), ‘Poesia’ (com Apollo França, Assad Amadeu e nosso confrade João Manuel Simões) e garantir um lugar no ‘Panorama do Conto Paranaense‘ organizado por Andrade Muricy. Em 1991 publicou dois livros: ‘Para Compreender o Paraná‘ e ‘O Ser de Parmênides Chama-se Brahma‘.
Não fosse por tudo isso, meu sufrágio seria do Helio por seus feitos no jornalismo diário. Cito grande momento que testemunhei durante nosso trabalho no Show de Jornal do Canal 4 na década de 1970. Helio era redator, ao lado de Renato Schaitza, Hugo Santana, Carlos Maranhão, Francisco Camargo, Luiz Manfredini e eu. Havia também repórteres fuçadores e colunistas informadíssimos, videorepórteres inspirados. Ante a censura pesada, decidiu-se que a previsão do tempo seria a válvula de escape para notícias terríveis demais para serem lidas pelos apresentadores e importantes demais para deixar de ir ao ar. Inventamos o hipopótamo do tempo, com a missão de divulgar fatos proibidos na linguagem criptográfica dos meteorologistas. Faltava batizar o hipopótamo, um boneco falante com a voz de Chacon Junior. Pedimos ajuda ao Hélio que pensou um minutinho e respondeu: Górgias. Um tributo ao filósofo Górgias, sofista grego morto em 380 AC, cujos escritos pareciam falar da repressão brasileira: ‘Nada existe; se existisse não poderia ser conhecido; se conhecido não poderia ser comunicado’.
Na semana seguinte, Górgias previu mau tempo: ‘Amanhã se cuidem porque é dia de tempestade. Raios e turbulência no sudoeste do Paraná’. Ao amanhecer saiu a lista de políticos cassados em Francisco Beltrão, cuja divulgação o major da censura tinha vetado.”
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