Desenvolvimento do Paraná no século XX
Motivação inicial: Segundo Aristóteles, os políticos devem ser honestos.
Até 1930, o Paraná viveu as vicissitudes da República Velha, com a sua economia baseada na exploração da erva-mate: esta representava 30% da receita do estado. A indústria manufatureira dava seus primeiros passos, com a produção de fósforos, sabão, velas, massas alimentícias e cerâmica, com fábricas ao redor da Capital.
A exploração dos pinheirais
Nativo no Paraná, de início o pinheiro era derrubado apenas para a construção de casas e cercas. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914/1918), tornando-se difícil a importação, era necessoário abastecer os mercados dos países vizinhos, o que incentivou a derrubada em massa de nossas reservas florestais. A partir de 1930, a melhoria das estradas e o uso de caminhões completaram o sucesso comercial da exploração da madeira.
Em 1920, o Paraná tinha um terço de seu território formado por florestas de pinheirais, tendo ficado reduzido, em 1960, a pouco mais de 10%. O reflorestamento é, portanto, iniciativa urgente!
A criação da Universidade do Paraná
Victor Ferreira do Amaral e Nilo Cairo, entre outros, incentivados pelo ensino livre permitido pela reforma do ministro Rivadávia, em 1911, resolveram criar no Paraná a sua Universidade, o que, depois de vencidas muitas dificuldades, teve lugar a 19 de dezembro de 1912. Seu primeiro ano letivo ocorreu em 1913, numa casa na rua Comendador Araujo, com um corpo de 26 professores e 96 alunos. Curitiba era pacata e tinha aproximadamente 60.000 habitantes.
Não obstante, com a nova reforma do ministro Maximiliano, em 1915, que permitia uma universidade somente em cidades com mais de 100.000 habitantes, a Universidade do Paraná foi fechada na aparência, pois os cursos isolados existentes continuaram a funcionar. Mesmo tendo ocorrido tentativas de reagrupar os cursos isolados em 1922 e 1927, foi só em 6 de junho de 1946 que ocorreu a restauração da universidade, pelo esforço do Interventor Prof Brasil Pinheiro Machado, apoiado pela bancada federal de deputados. Em 1950 a universidade do Paraná foi federalizada.
A revolução de Getúlio Vargas e o interventor Manoel Ribas (1932-1945)
O Paraná teve participação discreta no movimento revolucionário de 1930, a Aliança Liberal, que vindo do Sul, depôs o Presidente Washington Luís. No Paraná, o governador Affonso Alves de Camargo foi substituído provisoriamente pelo General Mário Tourinho, que, em 1932, entregou o cargo ao interventor definitivo, Manoel Ribas.
Em seu governo, solidificou-se a Companhia de Terras Norte do Paraná, destinada a promover a ocupação agrícola da região, desmatando e implantando a cultura do café, o que transformou o Paraná em grande produtor da rubiácea. Em 1943, o presidente Getúlio Vargas, com vistas ao desenvolvimento regional, resolveu criar seis territórios federais: Amapá, Rio Branco, Guaporé, Fernando de Noronha, Ponta-Porã e Iguaçu (ocupando parte do Paraná e Santa Catarina).
O levante dos posseiros em 1957, no sudoeste do Paraná
Em 1931, o interventor Mário Tourinho, assinou decreto fazendo retornar ao domínio do estado diversas glebas, dentre elas a de Missões. Em seguida, em 1940, o governo federal desapropriou todas as faixas de terras laterais à estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, incluindo a gleba Missões. Levado o litígio aos tribunais e sem que ainda tivesse sido encontrada uma solução, o ditador Getúlio Vargas resolveu criar, dentro da gleba Missões, uma Colônia Agrícola, denominada General Ozório (CANGO), destinada a atrair população e desenvolvimento para a região. O afluxo de gente foi enorme.
Os políticos e as negociatas da gleba Missões
No governo do general Eurico Gaspar Dutra, dois grupos políticos e econômicos se instalaram na região do sudoeste, uma ligada ao PSD (CITLA- Clevelândia Industrial e Territorial); o outro, ligado à oposição (UDN e PTB), Cia Pinho e Terras.
Em novembro de 1950, a CITLA, por interferência do gov Moysés Lupion, comprou do governo federal toda a gleba de Missões, recheada com 300.000 pinheiros nativos. Em 1951, com a derrota do PSD nas eleições para o governo estadual, ficaram na mão de Bento Munhoz da Rocha Netto as providências para anular a compra das terras pela CITLA, e o fez impedindo que o Estado recolhesse o imposto da SISA, o que impedia a finalização da transferência.
Com o retorno de Lupion em 1955, os impedimentos dos impostos foram suspensos, mas a CITLA foi obrigada a aceitar a participação de duas imobiliárias ligadas ao Grupo Lupion, assim acelerando a venda dos terrenos às populações gaúchas que aportavam em grande número.
Com a insatisfação dos políticos da oposição, liderados pelo senador Othon Maeder e deputado Antonio Anibelli, o povo foi conclamado a não assinar os contratos. As companhias colonizadoras passaram então a usar capangas e ameaças, tentando forçar os posseiros a assinar, o que os obrigou a também se armarem, na defesa de suas terras.
O agravamento da situação deu-se a partir de abril de 1957, quando os colonos, revoltados com as atitudes das companhias e da polícia, começaram a se reunir em praça pública, exigindo armas e disposição de luta. Capanema e Pérola do Oeste foram então dominadas pelos colonos e Santo Antonio continuava no domínio da companhia Apucarana. Diante da gravidade da situação, a oposição pedia a renúncia do governador Lupion.
Este, acossado, enviou para a região o coronel da PM Alcebíades Rodrigues da Costa, para pacificar a cidade de Capanema: dois mil colonos estavam na praça com armas na mão. Para Santo Antonio foi enviado o Coronel PM José Henrique Dias, que conseguiu desarmar os jagunços da companhia Apucarana.
O “levante branco” como estratégia dos políticos
Diante da não solução dos problemas fundiários e o alastramento da violência, a oposição política, sob a liderança do senador Othon Maeder e do advogado de Pato Branco, Edu Potiguara Bublitz criaram uma Junta Governativa, que a partir de três polos: Pato Branco, Francisco Beltrão e Santo Antonio, deveria, pelos meios de comunicação, convencer os colonos a se desarmar. A operação teve início em 9 de outubro de 1957, em Pato Branco e, em seguida, em Francisco Beltrão e Santo Antonio.
Alertado pelo cônsul brasileiro em Posadas, na Argentina, que visitou a região, o Ministro da Guerra, General Teixeira Lott, deu um ultimatum ao governador Moisés Lupion para que fechasse as companhias de terras e pacificasse a região, sob pena de intervenção federal. O envio do major da PM Reinaldo Machado a Pato Branco, como delegado especial, contemporizou a situação.
Como não interessava ao PDS uma intervenção federal no Paraná, pela perda de votos na eleição de 1960, o governo do Presidente Juscelino forçou o governador Lupion a retirar seus interesses na área. O chefe de Polícia, Pinheiro Junior, pacificou a região nomeando Chefe de Polícia de Francisco Beltrão, o advogado Walter Pecoits, um dos insufladores das revoltas.
Vitoriosos os políticos da oposição em 1960, coube a Ney Braga a pacificação da região, pela desapropriação das terras pelo governo de Jânio Quadros. Com a renúncia de Jânio, coube ao presidente João Goulart a criação de um Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do Paraná (GETSOP), que, sob a liderança de Deni Schwartz, concretizou a pacificação definitiva da região.
Material escrito por Antônio Celso Mendes, da cadeira 34, baseado no livro de Ruy Christovam Wachowicz.