A estrada da Graciosa representa um dos mais ricos e pitorescos cenários históricos do Estado do Paraná. É uma área protegida desde 1884, de interesse turístico nacional e inserida nos últimos remanescentes da floresta atlântica.
A região foi habitada por povos pré-colombianos que abriram trilhas na Serra e deixaram acúmulos de sambaquis, registrando seus hábitos e herança cultural.
Pelas vertentes da serra foram traçadas as mais importantes trilhas de ligação da serra com o litoral, sejam: 1) o caminho de Itupava que tinha o menor percurso, cerca de 9 a 10 léguas e cuja origem remonta à sua abertura durante a perseguição de uma anta, morta, afinal, em Porto de Cima. A trilha virou picada, mas só dava passagem para pedestre à cata do ouro dos ribeirões; 2) o caminho do Arraial, era o de menor frequência. Corria entre dois ribeirões, que o tornavam intransitável na época das chuvas. Era visto como o pior deles; 3) o da Graciosa, talvez o melhor, embora no tempo do governo de São Paulo não passasse de um caminho estreito e grosseiramente calçado nos trechos da serra, embora constasse que foi depois melhorado com algumas modificações, que incluíam seu alargamento. Mas, no juízo de Júlio Moreira, seu historiador, nem por isso deixou de ser, entre os outros da América, o que enfrentou mais dificuldades para poder vingar.
O caminho da Graciosa foi aberto por Gabriel de Lara, por volta de 1646, mas em 1653 ele o abandonou pelo de Itupava. Em 1721 o Ouvidor Pardinho recomendou sua abertura, o que só foi feito pelo Ouvidor Manoel dos Santos Lobato em 1738, cumprindo determinação da Coroa e do governador Gomes Freire de Andrade, estendendo o caminho até o rio São João, passando por Porto de Cima e seguindo em direção a Antonina.
Em 1782 a estrada da Graciosa foi fechada por ordem da Junta Real de São Paulo e esse tapamento durou até 1807. Em 1797, porém, a Câmara da antiga freguesia do Pilar (agora vila de Antonina), pretendeu reativar o caminho para servir ao transporte de pinheiros, úteis à fabricação de mastros de navios.
Mas a pretensão acabou sustada pelo Ouvidor de Paranaguá e pela influência de interessados em manter o seu fechamento.
Na verdade, durante todo o período em que integramos a Província de São Paulo, diz o próprio Romário Martins não mostrávamos nenhuma condição para nos transformarmos em via de rodagem, que se prestasse ao uso do transporte de carros e carruagens, pois só nos deu migalhas para sua preservação e escassas notícias de sua existência.
Porém, antes mesmo da emancipação do Paraná e afora as notícias que corriam das desavenças entre as Câmaras das vilas de Antonina e Morretes, em torno do uso do ramal de Porto de Cima, que impedia a passagens dos tropeiros por Morretes, e, além disso o receio de Paranaguá de perder para Antonina a exclusividade do porto de navegação da barra, para o transporte do mate, nossa maior riqueza, na verdade, durante todo o período anterior em que o Paraná integrou a Província de São Paulo, a Graciosa não demonstrava as condições que depois revelou no papel de importante artéria de uso comum, por onde passou a escoar a parte maior da riqueza de nossa terra e levava junto a esperanças de nosso progresso e desenvolvimento.
Ao assumir a presidência e instalar o governo da Província, em 1853, um dos primeiros atos do Presidente Zacarias de Góes e Vasconcelos, foi incumbir o tenente coronel de engenheiros Henrique Beaurepaire Rohan, de verificar as condições de uso das estradas de Serra Acima, que se dirigiam ao litoral, especialmente a Graciosa, além de promover as reformas necessárias a torná-las cômodas e livres de sofrer interrupção no tempo das águas.
Foi então que, em 20 de agosto de 1854, o engenheiro Saturnino Francisco de Freitas, auxiliar de Beaurepaire, deu início às obras com as primeiras picadas. Após a instalação da Província foram diversos outros engenheiros que participaram da obra da estrada, como Marine T. W. Chandler, Antonio Pereira Rebouças, Francisco Antonio Monteiro Tourinho, além de engenheiros ajudantes Gotlieb Wieland, Maurício Schwartz e Luiz Antonio de Araujo Parigot.
Monteiro Tourinho, de tradicional família paranaense, foi diretor de sua construção desde 1867 até a conclusão da obra em 1873. Assim nos deixou amplo relatório, inclusive financeiro de sua execução, documentando todas as suas fases e fazendo demonstração administrativa, técnica e financeira, que foi, afinal, o que faltou a seus administradores anteriores.
Embora, considerasse que a Graciosa representava o principal tronco de viação da Província, não dispensou críticas a ela, e até um juízo final de que a estrada foi mal construída, dispendiosa e sua conservação imprestável.
Antonio Rebouças, por sua vez, foi diretor por mais tempo e no juízo da equipe de trabalho deixou lembrança gratíssima de sua competência, revelando idéia própria, como na substituição da linha de São João, pela de Porto de Cima e Morretes, proposta acolhida e adotada pela direção.
Por fim, em 1873 a estrada já era considerada concluída: a Graciosa e seu ramal de Morretes. Isso durante a administração do Presidente Venâncio José de Oliveira Lisboa e é desde então que passou a cumprir sua missão de comunicação social e de transporte da nossa economia, embora faltasse completar uma parte menor da obra final. Mas, acrescenta Júlio Moreira, ainda assim ficou abandonada por algum tempo, e só foi no governo do Presidente Carlos Cavalcanti que passou a ser inteiramente pavimentada e adequada à passagem de veículos a motor. Com a inauguração da estrada de ferro a Graciosa vai conservar seu papel histórico e paisagístico. Passou a ser celebrada como a rota histórica dos antigos tropeiros, um caminho aberto a 900 metros de altitude, emoldurado por curvas sinuosas e encostas floridas, inserido em plena mata atlântica, intocada. Um rico quadro de primores naturais, representativo da beleza e da riqueza da terra paranaense.