O Espírito, ao criar o Universo, dispõe-no em algumas dimensões diferenciadas, os arcabouços reais e mentais que o constituem. Essas dimensões são  comuns a todo o orbe universal, formado pela superposição de um triângulo encimado por um quadrilátero, dando origem ao já famoso número sete, aquele místico da cabala judaica. Assim, tais paradigmas são o ponto, a linha, a angulação, a superfície, o volume, a transformação e as formas, ou seja, uma estática e uma dinâmica que funcionam como sístoles e diástoles no espaço e no tempo. Essa complexidade deve abarcar uma lógica dentro da qual tudo se altera, mas permanece o mesmo, mantendo sua estrutura virtualmente estável.

Em desdobramento, o ponto é o milagre do aparecer e se assemelha ao Uno que cria todas as coisas sem nunca perder a sua consistência, o brotar mágico a partir do Nada que implica o Tudo. Plotino, pensador místico do terceiro século da era cristã, compreendeu-O semelhante a um princípio cósmico que contém em si de todas as coisas. Já a linha é o desdobrar dinâmico do ponto, quando se perde na longitude do espaço, curvando-se sobre si mesma, criando assim uma segunda dimensão.

Esse curvar-se dá origem a uma terceira dimensão, a superfície, que constitui a noção de um plano horizontal ou vertical, surgindo assim a ideia de espaço vazio, a ser ocupado pelas  formas dos objetos. A quebra das superfícies constitui uma angulação, que dá origem a uma quarta dimensão, tornando possível perceber os objetos como volumes, a quinta dimensão.  Não obstante, essa percepção é parcial, face às dificuldades que a vista humana encontra em perceber, simultaneamente, largura, altura e profundidade, restando sempre uma parte oculta.

Já a transformação, o sexto paradigma, se dá em processo dinâmico e dialético, no qual o espírito humano percebe que nada permanece estável, em função de sua duração, passando por três momentos diferenciados em sua dinâmica: tese, antítese e síntese, como bem caracterizou o filósofo alemão George Frederico Hegel, que viveu no último quartel do século XVIII. Segundo ele, a  antítese ou negação não significa a eliminação da afirmação (a tese), restando sempre um momento de superação ou síntese em dimensão superior, permitindo assim que nada se perca na mudança, a garantia de que tudo que se transforma, o faça de forma evolutiva. Assim, a negação não se torna inteiramente destrutiva.

Ora, isso se confirma na sétima estrutura arquitetônica do Universo, a percepção abstrata das formas, que por seu caráter ideal (Platão), é puramente intelectual, produto de nossa capacidade mental. Dessa forma, confirma-se a presença virtual do Espírito na realidade física, uma graça concedida apenas à raça humana, com o poder milagroso de seu cérebro em formar conceitos, em perspectiva a priori, autônoma dos sentidos, o que sustenta o realismo de nossa espiritualidade.

Portanto, o ser humano aberto em suas possibilidades intelectuais, estaria de posse de um poder espiritual independente de suas limitações materiais, garantindo assim sua superação até mesmo diante da morte, ocasionada apenas pela perda de nossos cinco sentidos, mas dotada de autonomia capaz de alçar aos princípios divinos de sua consistência imortal. Dessa forma, estando o ser humano integrado num projeto antrópico, é figura central na constituição de um universo humano.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
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