Hegel, pensador alemão (1770/1831), a partir do exame das manifestações culturais criadas pelo ser humano, em seu livro clássico “Fenomenologia do Espírito”, conclui que o Espírito é um conceito síntese de uma realidade concreta que alcança todas as dimensões de nossa existência e que se apresenta dialeticamente ora como espírito subjetivo, em nossa consciência; ora como espírito objetivo, nas instituições sociais; e como espírito absoluto, que abarca o mundo transcendente da mística e das religiões. Assim, constituindo-se como um verdadeiro holograma, o Espírito passa a ser o fundamento mágico através do qual a realidade humana se manifesta, não havendo forma de ignorá-lo, sob pena de termos de eliminar tudo que a inteligência a nós se revela, uma realidade imanente e transcendente a fundamentar a cosmovivência.
Dessa forma, as conclusões de Hegel, constituem uma formidável síntese racional, pretendendo superar o dualismo cartesiano, o agnosticismo de Kant e o materialismo dos sentidos, tornando-se, por isso, uma das mais notáveis revelações que envolvem a dialética da razão humana. Ora, a caracterização hoje do Espírito como um holograma não nos deve assustar, pois, sem dúvida, Ele possui características multidimensionais, podendo ser imaginado como um feixe de luz que se dirige a nós com vigor e que, ao atingir nosso entendimento, se dispersa em raios luminosos de compreensão e verdade. Daí os efeitos miraculosos de sua ação, renovando em nós um acúmulo de inspirações inovadoras.
Assim, dado o nível etéreo em que se encontra, o Espírito possui variadas homologias simbólicas para identificá-lo, o que reflete a riqueza de aspectos em que se consubstancia: consciência, amor, sopro divino, origem da vida, paracleto, luz da vida, consolo na angústia, mestre da sabedoria. Seus sete dons revelados em Isaías (11, 2), expressam essa variedade, numa riqueza de aspectos: fortaleza, sabedoria, ciência, conselho, entendimento, piedade e temor de Deus.
O que caracteriza o holograma do Espírito é sua ambiguidade na produção do bem ou do mal, forjando uma realidade física aparentemente indiferente aos destinos humanos, o que reforça sua transcendência em relação a nossa subjetividade, como bem pensou Hegel. Não obstante, é um milagre que, diante do caos, o Universo possa ainda se apresentar em unidade e em acréscimo, pela contribuição do ser humano, tornar-se fator decisivo na concretização de valores, criando iniciativas mais humanizadas e menos destruidoras, apesar de nossas constantes frustrações.
Como seres humanos espiritualizados, um olhar repentino sobre o que temos conseguido realizar é de fazer chorar o coração, pelo sem sentido de nossas iniciativas, criando uma civilização material razoavelmente confortável, mas cujo modelo de cultura materialista, ausente de espiritualidade, embrutece as relações sociais, tornando-as autofágicas e impondo a pobreza e a infelicidade a milhares de seres humanos.
Contudo, se pensarmos que a humanidade está apenas no começo de sua evolução, é possível crermos que as potencialidades holográficas do Espírito ainda poderão se desenvolver, se diminuirmos a ganância e a concentração das riquezas entre poucos privilegiados, garantindo assim que os benefícios do progresso possam alcançar os três quartos da humanidade sofredora. O desafio está, portanto, diante de nosso egoísmo, pela conscientização de nossa insignificância diante da grandeza do Universo. Para tanto, tenhamos sempre em mente o que Hegel concluiu: “A Necessidade, a Natureza e a História não são nada mais que instrumentos da revelação do Espírito”.