Fui lá fora pegar um vento, a primavera já dá o ar de sua graça com aquela quentura em plenas três horas da tarde. Nos degraus de entrada do prédio, Ana Gondim e Waldir Porfírio compartilhavam a ânsia por um trago de cigarro; na confidencialidade, dividiam o isqueiro como duas abelhinhas na busca do néctar de uma flor. Ao lado, José Nunes tinha o olhar perdido ao longe, ladeira abaixo, parecia até estar vendo o cocuruto das serras de sua amada Serraria. Um carro de churrasquinho, ali na travessa defronte ao Instituto, mais apartado da entrada, despejava generosas camadas de fumaça que, em uma curiosa obediência, contornava em procissão o prédio de esquina e subia a ladeira da Barão do Abiaí, pegando carona na brisa que vem da Lagoa, lá de baixo… É quando uma voz rompe a monotonia: Olha, ele chegou! Um a um os presentes vão sendo avisados.
O autor discursando no auditório do IHGP
Olho para o outro lado da rua, a calçada oposta, na sombra que o prédio do INSS oferece nessas tardes, dali aparece o convidado, o escritor Laurentino Gomes, ladeado por Carmen, sua esposa. Olha para os lados, vai atravessando a rua, enquanto isso encara o prédio, vê no alto a sigla IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano), respira fundo em um misto de alívio e alegria. Com um inconfundível sorriso estampado em seu rosto, saúda um a um ali mesmo na entrada até ser recebido pelo Presidente Ramalho Leite, que de imediato, o leva para a Biblioteca Irineu Pinto. No alto, o auditório o aguardara com ansiedade, sócios e sócias do Instituto Histórico, alunos de faculdades, pesquisadores. Muitos com livros à mão para autógrafo, inclusive eu. Após uma breve entrevista – ali mesmo na biblioteca – para a imprensa local, ele subiu as escadas, admirando a arte nas paredes, telas históricas que ornam os ambientes do IHGP e chegou ao auditório.
Sua fala de aproximadamente vinte e três minutos foi esclarecedora sobre como a história do Brasil é tecida com agulhas e novelos da escravidão, prática que definiu usos e costumes e maneiras de entender e conceber o mundo. Folheando a obra, nota-se que o mesmo caráter aguçado das narrativas anteriores (a trilogia) está impresso nessa nova pesquisa e de maneira ainda mais forte. Um belo livro reportagem que como bem disse a historiadora Monique Citadino: “Laurentino veio democratizar a História do Brasil”, fazendo com que um país de tão poucos leitores possa se interessar por sua história. Humildemente ele afirma: a partir daí se fisga o leitor para ler nossos clássicos acadêmicos: Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre etc.Após assinar horas e horas em 12 estados, 26 cidades e 30 eventos, obtive a dedicatória dele. Em sua gentileza confidenciou estar untando mão e punho com pomada de cânfora, a jornada é grande e segue Brasil à fora, mas nada que tire seu marcante e contagiante sorriso que parece mesmo ser a própria estampa em que sua face foi moldada.