A África é aqui?

A África é aqui?

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“O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África”, padre Antônio Vieira, no final do Século XVII.

A poética precisa do jesuíta revela os contornos da porção afro de nosso DNA, mas nem de longe revela a quão sofrida foi e é sua existência nesses trópicos que se proclamam democracia racial e igualitária.

Essa é a síntese da palestra proferida pelo jornalista e acadêmico Laurentino Gomes na reunião de agosto da Academia Paranaense de Letras, neste dia 14.

Ele apresentou, resumidamente, o que será a trilogia “Escravidão”, que lhe consumiu seis anos de pesquisas e viagens e cujo primeiro volume será lançado, em setembro próximo, pela Globo Livros.

Gomes lembrou que o Brasil é o maior território escravocrata do hemisfério ocidental, tendo recebido cerca de 5 milhões de cativos africanos, 40% do total de 12,5 milhões embarcados para as Américas ao longo de três séculos e meio. Como resultado, frisou, o país tem atualmente a maior população negra do planeta, com exceção apenas da Nigéria.

As estatísticas no Brasil, entre inúmeras citadas por Gomes, são constrangedoras, porém: os negros e os pardos (classificação que inclui mulatos e uma ampla gama de mestiços) representam 54% da população brasileira e sua participação entre os 10% mais pobres dos brasileiros é de 74%; na faixa dos 1% mais ricos do país, o percentual de descendentes de africanos é de 17,8%.

Gomes usa uma expressão de Nina Rodrigues, antropólogo e etnólogo brasileiro, para frisar que, embora a escravidão tenha oficialmente acabado em 1988 no país, o Brasil “não se empenhou de fato a resolver o problema do negro”.

O acadêmico fará 30 palestras em todo o país para divulgar os resultados de sua pesquisa jornalística, com centenas de entrevistas e a leitura de cerca de 200 livros, que resultaram na trilogia “Escravidão”.

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