Luci Collin lança mais um livro

Luci Collin lança mais um livro

postado em: Notícias | 0

A escritora e acadêmica Luci Collin está de livro novo na praça. O prefácio é de Maria Esther Maciel.

O comentário de Guilherme Gontijo Flores, a seguir, clareia o que a obra tem a oferecer:

“Luci Collin vem construindo uma obra vasta e intensa nos últimos anos, sobretudo no vigor poético da sua prosa. Não quero com isso sugerir uma dicotomia simples entre prosa e poesia; mas, em sua escrita múltipla, Luci Collin de fato tem uma voz razoavelmente unificada e estável nos versos, ao passo que na prosa realiza uma verdadeira explosão de modos, ritmos, tons, personas, que vão construindo a cada peça toda uma nova história da linguagem possível e impossível.

É como se seus versos fossem uma faceta possível em seu leque amplo, dentre as muitas que na prosa podemos ver mais facilmente. Isso é um verdadeiro tour de force das potencialidades na escrita, ainda mais num país que historicamente aposta tanto em certo estilo jornalístico e insosso atrelado a um realismo triste do terceiro mundo. Luci Collin parece recusar qualquer uso de uma linguagem pré-fabricada, bem como as noções caducas de realismo.
Para se ter uma ideia disso, basta comparar os primeiros contos desta nova coleção como amostra da paleta: “Intro-” se desenvolve pelo coloquial quase-falado da narração em primeira pessoa, que conta em deriva uma tentativa fracassada de comprar um sofá no shopping; ‘Florilégio’ se volta para a narrativa em terceira pessoa, numa descrição incômoda da vida como monstruosidades compiláveis e intermináveis dispostas em herança, a partir da vida de uma mulher; já ‘Da capo’ parece um poema em prosa, com sintaxe longa, subordinadas angulosas e vozes entremeadas quase sem pontuação, numa pequena selva barroca em forma musical.
Essa vertigem vai se desdobrar ao longo de todos os contos destes ‘Dedos impermitidos’, porque cada um deles é uma vida única, ou um conjunto complexo de vidas atravessadas como linguagem, levando ao extremo a ideia de polifonia tal como a encontramos em Bakhtin, num só gesto que abraça o riso e o trágico, como no esfacelamento amoroso de ‘Sol pertencente’, o banal e o absurdo nos vários narradores da vida de Jonathan Swift em ‘O deão não rasteja’, ou a complexa sobreposição de camadas do belo ‘Divinatório’.
Mas isso não tem o menor gosto de comprovação teórica; pelo contrário, Luci Collin expressa um olhar muito atento ao mundo em volta, seja para recontá-lo, seja para recriá-lo. Isso tudo com sua devida abertura ao inacabado, como podemos depreender das palavras do narrador de ‘Absoluta depuração’, último conto do livro: ‘Ainda faltará falar de muitas coisas. Tudo é alusivo’. Sim, alusivo e misturado, como quem renova a receita a partir de ingredientes conhecidos. ‘Nunca fui de inventar prato novo. Conferi os itens na despensa.’

Essa conferida refinada, essa mistura inusitada é prato mais que necessário de Collin: frescor de língua viva e que demanda relações”.

 

Imagem: divulgação

Deixe uma resposta