Para os físicos, a luz é um fenômeno quântico resultante do entrechoque de partículas carregadas de energia contrária, dando origem, como consequência, aos trovões e aos clarões de luz. E, na continuação, é a partir daí que toda a realidade aparece, pela formação do turbilhão energético que constitui as galáxias. Igualmente, com o surgimento de novos aparelhos, os cientistas puderam concluir que a luz é o elemento energético fundamental para o surgimento do macrocosmo.

Não obstante, é o Espírito presente em nós que nos capacita explorar todas as semânticas envolvidas no fenômeno da luz, algo que se nos aparece como essencial e intimamente relacionado à explosão inicial do Big Bang, constituindo um verdadeiro milagre sua transformação em matéria extensiva. Há, pois, uma rica simbologia envolvida com o fenômeno, que é excepcional, como atestam as teorias referentes ao colapso inflacionário (Alan Guth, 979).  Dessa forma, o fenômeno da luz, percebido por nós de maneira fantástica, não poderia deixar de apresentar características místicas, em função da natureza etérea que o constitui. E como não poderia deixar de ser, no espírito humano provoca-lhe reações simbólicas de grande efeito, identificando-se com as Forças Superiores que sustentam todo o Universo.

Dessa forma, a identificação transcendente da luz começa cedo na história da humanidade, com os egípcios venerando a divindade do sol, fonte da vida e da existência, sem o qual não poderíamos explicar tanta vitalidade que povoa a realidade. No cristianismo, Nossa Senhora da Candelária representa a personificação dessa claridade, como nos expõe S. Lucas em seu Evangelho em 2: 29-33. Seguindo a tradição, a Sagrada Família se dirige ao Templo para a apresentação do Menino e a purificação de Nª Sª, quando teve a revelação do monge Simeão de que o menino Jesus será a luz do mundo para consolidar a salvação.

Posteriormente, na ilha de Tenerife, nas Canárias espanholas, no ano de 1.400, ocorreu a aparição da Virgem da Luz ou Candelária, passando os habitantes a venerá-la de forma periódica. Igualmente, o padre Antonio Vieira, em seus célebres Sermões, afirma que Maria nasce para ser a Senhora da Luz. Por tudo isso, consolida-se a veneração de que Maria é realmente uma fonte de luz, por ser a portadora de um momento sagrado (kairós), não só por ser a mãe do Salvador, mas principalmente pelas suas aparições modernas em Guadalupe, Aparecida do Norte, Lourdes, Loreto, Fátima, mostrando ao mundo a necessidade de conversão de todos à fé e à oração.

Curitiba tem como padroeira Nª Sra da Luz dos Pinhais e conforme uma lenda, em meados do século XVIII, a imagem que estava no interior de uma capela às margens do Rio Atuba, sempre se voltava na direção da colina onde se situa hoje a Igreja Catedral, na Praça Tiradentes. Coube ao índio tingui Tindiquera localizar com seu bastão o local determinado, pronunciando ‘Coré Etuba’, que significa ‘muito pinhão’ e que constitui o marco zero da cidade.

Confirma-se, portanto, que somos pessoas cuja natureza essencial é participar do fenômeno da luz, esta como berço que é de toda a vitalidade do Universo e da Vida, reconhecendo que tal condição é extrínseca à Natureza e que se desenvolve apenas por uma graça superior a nós concedida, tornando-nos diferentes de tudo o mais. Destarte, constituindo-se como essência em um Universo virtual, nossa natureza se apresenta dotada de espiritualidade, cuja plenitude só se concretiza em nível transcendente, a partir das perspectivas da religião e da fé.

  • Autor: acadêmico Antonio Celso Mendes
  • Foto: arquivo APL
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