Quem não conhece Curitiba é incapaz de imaginar a imensa neurose a nos assolar. Pois saibam todos quantos estas linhas lerem que nós, curitibanos de nascimento ou adoção, como eu, sofremos da doença do clima. Vivemos em permanente estado de aflição, à beira da apoplexia, por conta da ansiedade gerada pela insegurança climática.
Não é coisa para amadores, diria Belmiro Castor. Diversos tratados já foram publicados sobre a conflituosa relação entre os curitibanos e os elementos. Todos concordam que a situação é dramática.
Comecemos pelas nuvens. Elas nos dominam 365 dias por ano, no mínimo. Sim, porque existem anos em que o sol não aparece nem depois do dia 31 de dezembro. Tenho um vizinho que costuma passar fins de semana em Botucatu só para ver o azul do céu. Dia desses, ao encontrá-lo no elevador, perguntei qual a sensação de estar sob raios de sol. A descrição que ele forneceu quase me levou às lágrimas, tamanha a saudade solar que me oprimia o peito.
Nosso céu é tão fechado que certa vez, ao descer do avião atrás de um estrangeiro, que descobri ser russo ao vê-lo respirar o ar gelado e exclamar, admirando o cinzento do céu: Sibéria, berrou – e mais não disse.
Depois tem o problema causado pelas chuvas. Não importa o tempo que faça, em Curitiba a expressão para garantir que algo vai de fato acontecer não é “chova ou faça sol”. É chova ou faça chover. A dependência é tanta que no Parque Barigui existe uma pista para pedestres apta aficar submersa. Em épocas de muita chuva, um caminhante distraído é capaz de andar até submergir e dali partir para uma vida nos confins do subsolo. Um espanto.
No mesmo parque, o Rio Barigui vai abrigar uma mini-hidrelétrica. Com isso o Paraná poderá jactar-se de ser sede da maior usina do mundo e da menor. O que é uma injustiça com Curitiba: nosso índice pluviométrico está a merecer uma Itaipu exclusiva.
E temos os ventos. Quando a mitologia grega inventou Éolo, deveria ter em mente as correntes que nos atingem vindas de Ushuaia, a velocidades de tufão e temperaturas antárticas. Quem mora em edifício não pode se queixar da emoção hollywoodiana que as rajadas nos proporcionam. A vantagem é que estes fenômenos não ocorrem com frequência, apenas entre janeiro e dezembro.
Sempre que escrevo criticando o clima curitibano aparece alguém mal–humorado para sugerir, digo exigir, que eu seja expulso daqui a golpes de vassoura. Trata-se, porém, de pleito impossível. Para usar uma expressão de Dante Mendonça, também um imigrado, entre os melhores defeitos de Curitiba está o de acolher os incautos.
Outro belo e permanente defeito é o de ser condescendente. Curitiba conhece a fundo suas inclemências e costuma tolerar quem delas fala mal. Afinal, tudo se resume a diatribes de amor – que praticamos vestindo capa de plástico e segurando o guarda-chuva, é claro.