Uma teoria que envolvesse todos os aspectos complexos que abarcam a realidade teria que dar explicações de como tudo se relaciona, desde o Big Bang até a formação dos planetas ou da matéria relacionada ao fenômeno da evolução, gerando a eclosão da vida; ou como se relacionam as quatro forças que comandam o Universo da matéria, ou seja, a gravidade, o eletromagnetismo e as forças nucleares forte e fraca. Ora, constata-se que isto dificilmente pode ser alcançado, restando apenas aos cientistas o recurso das perspectivas não ortodoxas, ou seja, uma interpretação holística virtual de como tudo se manifesta.

Pois que a ciência atual atingiu um nível crítico consistente, reconhecendo que o conceito tradicional de pesquisa objetiva, lidando apenas com matéria e energia, não mais se sustenta; depois que os fenômenos quânticos foram descobertos, colocando a realidade muito próxima do surreal, importa tecer  considerações a respeito da natureza física que nos cerca, indagando o que estaria de fato dando origem a esta realidade mágica que nos transcende.

Tais maravilhas, portanto, alteram profundamente os conceitos clássicos referentes à matéria, permitindo que nossa ciência passe a reconhecer fenômenos até então vistos como delírios de bona fide, agora aceitáveis no ambiente acadêmico dos pesquisadores. Dessa forma, não tem mais cabimento um conceito de ciência que não reconheça o caráter limitado do saber, tecendo abordagens que são apenas a solução de problemas que lhe são propostos, não podendo ser um veículo de compreensão total do que se manifesta.

A palavra holística vem do grego holos que significa o fato de que o todo é maior de que suas partes, ou a visão de que o Universo se constitui como uma unidade integrada, envolvendo não só a matéria como também a biologia e os fenômenos psíquicos. Assim, a holística se constitui como um fenômeno transcendental, uma conclusão obtida em nível de puro pensamento conceitual. Foi assim que Plotino (c. 205/270) entendeu o Uno, princípio universal que gera todas as coisas.

Ora, considerando a virtualidade e o fato de que tudo se constitui pela ação de nosso espírito, importa reconhecer que ele é o substrato conceitual mais abrangente que se possa conceber, e, em nível transcendente, concebê-lo como realidade ontológica, um espírito que é único e fonte primordial de tudo que ocorre, abrangendo a totalidade do Universo.

O primeiro grande pensador a reconhecer integralmente o paradigma do espírito como substrato absoluto da realidade foi George Frederico Hegel (1770-1831), de origem germânica. Segundo ele, só o espírito pode dar conta da complexidade dos fenômenos naturais e psicológicos, a partir do conceito de totalidade (das ganze), em  manifestação dialética entre afirmação, contradição e conciliação, como demonstra a natureza em seus procedimentos, sendo considerados, em analogia simbólica, não opostos, mas complementares, uma trindade similar àquela formada pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo ou criação, redenção e salvação. Como se observa, a concepção de Hegel desconhece a separação entre pensamento e realidade, entre fenômeno e explicação, numa tentativa de integrar tudo em nível superior, tornando assim a realidade do espírito o fundamento imprescindível para se compreender a totalidade dos fenômenos cósmicos, materiais ou psicológicos. Fonte de toda a nossa ciência, o espírito é luz que ilumina nossa consciência, colocando o ser humano como o único depositário de um saber que transcende os limites da materialidade.

  • Autor: Acadêmico Antonio Celso Mendes
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