A mística da alegria repousa sob a concepção de que o mal é aparente, permitindo daí que nós, seres humanos espiritualizados, possamos perceber que tudo que foi criado está dentro de uma orquestração perfeita, e que mesmo a ocorrência de coisas e acontecimentos que nos pareçam ruins, são conduzidos por uma Ordem Transcendente, governante do Universo. Os males sociais, a pobreza e a violência, não são consequências imediatas de Sua Criação, mas sim resultados dos desvios da mente humana em estabelecer prioridades, como o bem, a ordem, a educação e a paz, conduzindo, portanto, a civilização, pelos caminhos da barbárie e da regressão.
Ora, essa alegria modifica completamente nossa maneira habitual de apreciar as coisas, tornando-nos serenos em relação a tudo, pois não há nada de mal que nos possa atingir, nem a doença ou a morte, por considerá-las inscritas dentro de uma normalidade natural. Pensar assim é abrir nossos horizontes existenciais, passando a viver num universo como gerado divinamente, intocado em sua perfeição.
Por consequência, podemos alcançar a intuição de que a criação não é fruto do acaso, e que nós devemos viver refletindo em nosso interior uma alegria serena e despreocupada, cientes de que existe uma atmosfera de paz e harmonia mística gerenciando todas as coisas, apesar da estupidez humana, que não cessa de comprometer o estabelecimento de outro tipo de realidade, menos perversa, o Universo como querido pelos Arcanos Celestes.
Ludwig Van Beethoven, em sua 9.ª sinfonia, soube bem caracterizar em que consiste a alegria mística, como um coral que solfeja os sons jubilosos da criação, a música que é pura arte sonora. Para nós, ela representa o estado eufórico que necessitamos atingir, se quisermos partilhar dessa alegria mística, que é pura e simplesmente a aceitação graciosa de nossa condição humana, repositório de espiritualidade e não violência.
Ora, isso diz respeito muito de perto ao irmão marista Clemente Ivo Juliatto, Reitor da PUCPR por doze anos e detentor da Cadeira n.º 17 da Academia Paranaense de Letras e a mim, como confrade, foi dada a oportunidade de conviver durante anos em sua companhia, se apresentando sempre amável e sorridente, o que refletia seu estado interior de graça e solicitude. Reitor emérito de nossa Universidade Católica, foi o artífice da evolução institucional daquela Casa de Ensino, Pesquisa e Convivência, consolidando-a no que é hoje, instituição líder entre seus pares.
A alegria mística é, portanto, o convívio imarcescível de uma serenidade permanente, familiar aos grandes iniciados, que puderam alcançar, pela graça alcançada em suas vidas, atingir um estado de equilíbrio insensível aos tropeços naturais da existência, como nos deu exemplo São Paulo, em sua Carta aos Filipenses (4:4,8):
“Meus Irmãos, estejais sempre alegres em vossas vidas no Senhor. Repito: alegrai-vos! Sejais bondosos para com todos e não tenhais receio de coisa alguma, pois o Senhor está próximo; e em vossas orações ao Senhor pedi tudo o que necessitardes, sempre em espírito de agradecimento. E a paz de Deus, que está acima de toda compreensão humana, guardará vosso coração e vossa mente em união com Jesus Cristo. Meus irmãos, fazei tudo o que é bom e digno de elogio: o justo, o verdadeiro, o puro, o honesto e o amável, Amém.”