Caminho só, feito meu herói de infância, Zorro – mascarado, sem espada para o mal. Caminho por ruas e sonhos de Curitiba de Nossa Senhora do Pinhais, que me agasalha há 34 anos.
O grisalho frio do final do dia me abraça e emociona. Afinal, nesses dias, quando o isolamento nos recolhe ainda mais, falta eco para as emoções. Quantos dias andei por aí à toa, nos vãos cinzas desta cidade… Por isso, viajo, sem bagagens arrumadas ou de conteúdos prontos, nessas ruas que querem parecer normais.
Agarrado pelo cinza e aos meus pensamentos, não há como evitar certa nostalgia, que espanto com novos passos.
Dá uma alegria infantil do rabisco com espada na barriga do Sargento Garcia. Ou, que nada, dá um certo rabisco de alegria de viver! Ele vem de cumprimentos de pessoas, mesmo vedados por máscaras. Ou de tímidos acenos. Ou de ambos.
Cumprimento-as efusivamente, mesmo que não vejam meu riso de boca a boca. Estar vivo chega a parecer surreal.
Caminho por várias ruas. Porém, as ruas magriças, por onde caminho, margeando o rio Belém, têm uma fatia com um bordado de árvores de várias espécies debruçadas sobre ele.
Há uma mistura que me fertiliza a alegria.
Da mistura somos feitos, os brasileiros. A mesma que vejo nas árvores, nas outras plantas, nos tipos de pássaros, nas pessoas que transitam carregando sentimentos diferentes, em saborosa diversidade.
É ela que que nos faz assim, pessoas e, sobretudo, quando brasileiros, esta receita de vários tachos, embora remendada desde o início da Terra Brasilis. Fagulhas de tristeza e angústia sopram em minha alma, quando lembro que há gente que quer azedar esta mistura, à procura de um eugenismo infeliz.
Aliás, aqui, nessa mesma cidade, estão enterrados cadáveres desta pretensão. Outros são fantasmas e vivos. Sei lá, coço minha espada na bainha e a aquieto.
Outras tristezas ficam ainda mais salientes, em carne viva, quando penso em tonéis de lágrimas derramadas por uma pandemia que nesta terra de Santa Cruz não mereceu o devido cuidado e foi propalada como um mal menor.
A nuvem paira, temerária, sobre toda a Terra. Assim (des)caminha a humanidade.
Caminho a escutar o silêncio de meus passos; a minha vida, como a de todos, nutrida por um fio. Penso que este meu fiapo é o de rever e reconhecer, queira Deus, os brasileiros como brasileiros. E de derramar lágrimas de alegria.