A ideia do suicídio corresponde, na sua origem moderna, a uma manifestação do movimento artístico do romantismo dos fins do século XVIII e início do século XIX, na Alemanha e na Inglaterra, adotado como produto de criação pessoal de insubmissão da pequena burguesia frente à rigidez do classicismo, procurando assumir expressões próprias de criação artística, através do culto de emoções pessoais, abertas e subjetivas. Sua versão moderna mais conhecida é a do romance de Wolfgang Goethe, “O sofrimento do jovem Werther”, cuja repercussão levou a uma onda de suicídios de centenas de jovens europeus, visando se contrapor à realidade castradora do racionalismo, através da manifestação de um sentimento idealizado de tristeza e depressão, através do qual se procurava alcançar a redenção de um amor inviável e a realização de sua conquista.

Representou uma forma idealizada e pessoal de se contrapor ao formalismo da expressão artística do seu tempo, para sublimar, pela exaltação dos sentimentos mais profundos e alcançar a redenção e a eternidade de um amor renegado.

O romance foi editado em 1774, mas sua leitura se difundiu tão amplamente que até Napoleão carregava consigo um dos seus exemplares, que confessou ter relido por seis vezes.

Mas o chamado efeito Werther (Sturm und Drang), foi criado pelo pesquisador Daniel Phillips, 1974, e prevaleceu ainda por mais duzentos anos com o Clube dos 27 anos, adotado como limite de vida, pelos suicidas James Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix. Brian Jones, Kurt Cobain, e ainda se expandiu até ao Japão de 1986, com a síndrome Yukiko Okade, que levou o jovem Masahiro Majime, de 21 anos, a dar fim à sua própria vida.

Ainda hoje a Organização das Nações Unidas (ONU) registra que no mundo atual 800 mil pessoas se matam por ano, o que dá ideia da magnitude real do seu problema.

Embora conste que a Ásia e a Europa é que detêm o mais alto índice de ocorrências de suicídio, é o Brasil, entretanto, que ostenta a maior taxa em seus números absolutos, em todo mundo. Entre 2011 e 2015 foram registrados 55.649 óbitos por suicídio, à taxa de 5,5 por 100 mil habitantes, sem contar, entretanto, com as consequências negativas do suicídio, que, em geral atingem 6 outras pessoas.  Ao que consta, no Brasil, a cada 45 minutos ocorre também um suicídio que abrange, na sua maioria, a faixa dos 15 a 19 anos.

E foi assim que em 2015, foi criado pela Lei n.º 18.871, posteriormente alterada pela Lei n.º 20.229/2020, o dia 10 de setembro de cada ano como o Dia Nacional de Prevenção do Suicídio, de caráter anti-estigma, visando conscientizar e prevenir as pessoas sobre as consequências de se tirar a própria vida.

A data ficou cognominada como Setembro Amarelo, em memória do suicídio do jovem norte-americano Mike Emme, de apenas 17 anos, admirado pela sua habilidade mecânica e pelos cuidados com seu veículo Ford Mustang 1968, pintado de amarelo e, à notícia de algum suicídio, era levado ao túmulo cartões de seus familiares, presos por fitas amarelas, compondo palavras de desestímulo à morte voluntária e a exaltação da vida. A data é hoje adotada no Paraná pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) e pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Hoje o suicídio se inclui entre as principais causas de morte em todo o mundo e é visto, propriamente, como mais do que uma doença física, de cura provavelmente mais segura, mas também, do outro lado,  como fruto de causas emocionais ou meramente comportamentais, próprias da vida moderna, que incluem o uso de drogas, bebidas e tantos outros fatores de natureza emocional ou comportamental, ou ainda dificuldades financeiras, e outros tantos fatores, que reclamam tratamento mais específico e de investimento mais psicológico e pedagógico do que o do mal físico, e em cujo trato pessoal e emocional os resultados se mostram tantas vezes menos  promissores.

  • Autor: acadêmico Rui Cavallin Pinto
  • Foto: arquivo APL
  • Imagem: Luisella Planeta Love Peace por Pixabay