Nunca houve no Brasil tanto dos nossos patrícios vivendo fora do país. Diz o Itamaraty que são mais de 4,2 milhões deles, conforme registro de 2022, com o acréscimo de 36% nos últimos 10 anos. Mas esses números não se mostram muito seguros porque não há um controle direto da saída e do retorno dos que deixam e voltam ao país de origem. Porém, conforme dados oficiais eles somam nos Estados Unidos mais de 1,7 milhão e contam 270 mil os que se encontram em Portugal, iguais aos 240 mil do Paraguai, como tantos outros mais pelo mundo afora.
A maior parte desse número é, porém, dos que têm trabalho ou residência no exterior, fruto de uma migração que vem desde 1960 e se acentuou pelos anos de 80 e 90, na busca de trabalho e na expectativa de ganhar mais e desfrutar de melhor qualidade de vida. Mas, esse número é resultado também do chamado push-pull, que é a atração exercida pelo próprio país de destino somada à força da expulsão que o emigrante sofre para deixar seu país e, a tudo se soma também o interesse da nação hospedeira de receber uma geração mais jovem, para substituir a sua mais velha, tal como ocorre com as nações da Europa.
As estatísticas revelam que a maior parte dos emigrantes preferem Nova York onde é maior a oferta de emprego e melhor a remuneração, além de onde não se costuma exigir maior qualificação pessoal e conhecimento de inglês. Os executivos das empresas brasileiras moram em Greenwich ou em Westchester, mas 60% dos de menor condição ocupam os distritos do Queens (o gueto brasileiro) ou o Harlen espanhol, em apartamentos ou hotéis baratos. Os homens desempenham as atividades mais comuns e servis, as mulheres são empregadas domésticas ou baby sitters.
É assim, pois, que perdemos para o mundo centenas de milhares de brasileiros iguais a nós, o que, a princípio, até parece certo, pois, seguindo uma política social e econômica de prática comum, nos livramos dos nossos mais pobres e dos com menos qualidades, quando, na verdade, corremos também o risco de perder possíveis talentos, talvez mais promissores que os nossos melhores, coisa que, afinal, não podemos prever ou evitar.
Por outro viés, verificamos também, pela imprensa recente a notícia de que 62% da nossa geração mais jovem, de 16 a 24 anos quer deixar o Brasil, a que se incorporam também os de maior idade, e até de curso superior, além de membros da classe A/B, numa soma que chega a 70 milhões deles, e equivalente à perda de uma população igual a de três dos nossos estados mais populosos.
Em geral, todos querem viver e fazer carreira no exterior e, os mais jovens, completar sua formação em instituições superiores e internacionais de ensino e especialização profissional,
Alegam, sobretudo, o interesse de ganhar mais qualidade de formação e experiência profissional e cultural, para um mundo que se mostra ainda mais adverso, plural e competitivo. A ideia é, como dizem, evitar virar Uber ou acabar vendendo brigadeiros na feira.
Porém, atrás dessas manifestações de interesse individual, nossos intérpretes sociais costumam somar a tudo a influência mais forte de um quadro atual de vida social e econômica como o principal responsável pelo desânimo que prepondera no espírito dos nossos jovens, diante do seu futuro, embora, porém, mesmo assim isso não desfaz a disposição de recompor sua formação e abrir caminho para sua realização pessoal, que possa lhe assegurar um melhor destino num mundo que lhe parece cada vez mais inseguro e está a exigir maior preparo e competência, à frente de dados recentes, passados pela Data Folha, de que nossa economia vai piorar ainda mais 32% e o desemprego reduzir 46%.
Enfim, tudo isso nos leva a repetir a recomendação de Marcos Fernandes, pesquisador da Cepesp FGV, de que o país precisa se empenhar (a curto prazo), em procurar deter essa “fuga de cérebros”, mediante a adoção de políticas públicas e a criação da canais internos e externos de conexão e participação, não só para conter a evasão lesiva de nosso potencial de talentos como procurar criar um maior número e oportunidades internas, mediante estímulo ao maior desenvolvimento nacional e à estabilidade e segurança da economia, para que nossos jovens acadêmicos, tecnólogos e empreendedores abreviem suas presenças no exterior e se incorporem definitivamente ao esforço nacional de nosso desenvolvimento.
Ainda recentemente a imprensa britânica divulgou o relatório da Times Higher Education, de avaliação do desempenho de 179 instituições de ensino superior de 13 países, analisando cinco áreas de ensino pesquisa, número de citações, panorama internacional e receita da indústria e ainda inclui 13 outros indicadores e, entre eles, os do grau de titulação dos seus professores.
O raking inclui 72 universidades brasileiras que, ao que se vê na média, superam as latino-americanas em todos os quesitos, embora a Universidade do Chile ocupe o primeiro lugar, o segundo é da Universidade de São Paulo. Ainda, em seguida, a Universidade Estadual de Campinas ocupa o terceiro, a Universidade Federal de São Paulo o quarto e a Universidade Federal de Santa Catarina o sexto, seguidas da do Rio Grande do Sul, que ostenta o oitavo lugar em qualidade geral. Enfim, entre as dez melhores universidades da América Latina, sete são do Brasil.
Assim, em qualidade de ensino e visão universal, o Brasil ostenta atualmente um nível igual, ou mesmo superior de qualidade, na comparação com muitas das melhores universidades estrangeiras, o que nos anima a sentir no dever de oferecê-los ao proveito não só das gerações mais novas, como também para os mais pressurosos, adiantando a atenção para a lição da história, de que o sucesso das instituições culturais e seus benefícios não provém do desejo de um só, nem da simples concentração de benefícios materiais, mas é o resultado principal de um ganho de consciência mais geral e de confiança nos seus desígnios superiores e na difusão dos seus benefícios.
É o vigor do princípio de servir sem perder, a final de contas a cultura é parte mais difícil de toda a obra humana.